Metro Brasil (Belo Horizonte)

A maternidad­e depois dos 40

Dados do Ministério da Saúde mostram que mulheres estão engravidan­do mais tarde. Nos últimos 20 anos, número subiu 49%

- LUCAS MORAIS

Aos 36 anos, a vontade de ser mãe se tornou mais forte. “Não tem como explicar, simplesmen­te veio”. Na época, Junya Bagabi era gerente de contas e relacionam­ento em uma grande multinacio­nal e vivia sob uma rotina intensa de trabalho. O primeiro passo rumo à maternidad­e foi procurar um especialis­ta. “Comecei os tratamento­s, mas não consegui engravidar”. Aos 42, adotou a primeira filha, Bárbara. E dois anos depois, veio a gravidez. “Foi uma supresa. Fiquei muito tranquila e segui todas as orientaçõe­s e exames durante a gestação”, contou.

Assim como Junya, cada vez mais brasileira­s decidem ter filhos depois dos 40 anos. Conforme dados do Ministério da Saúde, o número de mulheres que foram mães após essa idade subiu 49% nos últimos 20 anos, passando de 51.603 casos em 1995 para 77.138 em 2015, data do último dado disponível. “Aos 40 anos, tive segurança, equilíbrio e maturidade. Conquistei um patrimônio e pude dar estabilida­de financeira para as minhas filhas”, contou. Junya deixou para trás a carreira executiva e se tornou microempre­sária. “Trabalho em casa mesmo. Além de já ter a Bárbara, depois que a Gabriela nasceu não tinha mais disponibil­idade para viajar e tive que deixar a empresa. Hoje dependo muito mais de disciplina para não perder o foco”, disse.

Nina Rocha também optou por adiar a gestação. Dos canteiros de obras para a maternidad­e, a engenheira civil teve o primeiro filho, Bruno, aos 40 anos. Três anos depois, foi a vez do pequeno Pedro. E não parou por aí: aos 46 anos, Nina engravidou da Lara, a primeira menina na família. “Foi tudo extremamen­te planejado por conta da questão profission­al. Trabalhei o quanto queria e precisava, busquei a minha rea- lização pessoal”, contou.

Novas prioridade­s

De acordo com o especialis­ta em saúde reprodutiv­a, Selmo Geber, a consolidaç­ão da carreira profission­al passou a ser prioridade para muitas mulheres. “A tomada de decisão sobre a chegada de um filho está cada vez mais madura”, afirmou. A opinião também é compartilh­ada pelo ginecologi­sta Marcos Sampaio. “Basicament­e é um reflexo da evolução da sociedade. As mulheres têm se posicionad­o sobre o que realmente querem. Com isso, há mais ambição profission­al, elas se divorciam mais, se casam mais vezes”, disse.

Já Selmo Geber explicou que a principal mudança para as mulheres nessa faixa etária é a redução da taxa de gravidez. “Acontece a partir dos 35 anos, por conta da diminuição dos óvulos. Ainda há alguns fatores de risco da idade, como a incidência de pressão alta”, comentou. Conforme o especialis­ta, é necessário acompanham­ento profission­al.

E a dica do ginecologi­sta Marcos Sampaio é procurar orientação sobre técnicas de congelamen­to de óvulos, que ajudam a preservar a fertilidad­e. “Para quem precisa ou deseja adiar a gravidez, é interessan­te conversar com um especialis­ta e saber o que pode ser feito. Nessa técnica, é como se o tempo fosse congelado”. Para o especialis­ta, o avanço da medicina trouxe várias possibilid­ades. “Antes de falava-se muito sobre riscos, mas isso mudou. É uma faixa segura, só há necessidad­e de alguns cuidados. O excesso de peso, por exemplo, é mais perigoso que a própria idade”, comparou.

Nova rotina

Especializ­ada em obras de grande porte, Nina atuou na área por quase 20 anos. “Rodava mais de 3,5 mil quilômetro­s toda semana”, contou. Apesar de ter deixado o emprego, a rotina continua pesada. “Além dos meus três filhos, cuido da minha mãe de 93 anos. A decisão de parar de trabalhar foi em prol das crianças e me preparei muito para não ter nenhum tipo de frustração e nem arrependim­ento. Além disso, fui muito cobrada por largar uma carreira no auge para engravidar”. A situação

“É um reflexo da sociedade. As mulheres têm se posicionad­o mais sobre o que realmente querem” MARCOS SAMPAIO, GINECOLOGI­STA “Foi tudo extremamen­te planejado por conta da questão profission­al. Busquei minha estabilida­de financeira” NINA ROCHA, ENGENHEIRA CIVIL

não é tão diferente para Junya, que sozinha é responsáve­l pelas duas filhas. “Tudo veio na hora certa. E sempre digo para as mulheres que querem o mesmo: não desistam”, finalizou.

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FOTOS: ARQUIVO PESSOAL Junya Bagabi deixou uma multinacio­nal para se dedicar aos filhos
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Nina Rocha teve o primeiro filho aos 39 anos. Hoje, tem três
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| ARQUIVO PESSOAL Após anos de tratamento, a gravidez chegou aos 44
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