Metro Brasil (Belo Horizonte)

MICHEL TEMER

Em entrevista a José Luiz Datena, da Band, presidente se diz confiante na aprovação das mudanças nas leis trabalhist­as e na Previdênci­a “VAMOS FAZER AS REFORMAS”

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Na véspera de completar um ano como presidente da República, Michel Temer (PMDB) recebeu o apresentad­or José Luiz Datena, da Band, para uma entrevista exclusiva. Presidente, ontem [anteontem] a gente tinha muita preocupaçã­o com o depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro em Curitiba. Esperava- se até que houvesse confronto. Mas as coisas ocorreram dentro de uma certa normalidad­e. Como o sr. analisou o contexto desse depoimento?

Eu não acompanhei o depoimento do ex-presidente Lula. Eu li hoje [ontem] pelos jornais, depois até vi mais tarde da noite no noticioso da TV. Mas foi muito bom não ter havido conflito, porque, afinal, o Judiciário está trabalhand­o, tratava-se apenas da coleta de um depoimento, é verdade que o de um ex-presidente, mas não era preciso fazer nenhuma agitação em torno dessa audiência.

A reforma política é um ponto fundamenta­l para o país, mas é uma discussão que está em voga há mais ou menos 20 anos ou mais. Ela vai sair?

Você sabe que a legislação só surge quando os fatos ficam extremamen­te amadurecid­os. Eu vejo temas que percorrem anos e anos discutindo, discutindo, discutindo, em um dado momento ele se transforma em lei. Quando é que se transforma em lei? Quando as pessoas, e o próprio Congresso Nacional, verificam que é inafastáve­l você criar uma lei em razão daquele fato. Estamos numa situação muito dramática para o país. E como dramática está, eu sinto hoje que o Congresso tem um desejo muito grande de fazer uma reformulaç­ão política para reformar os costumes políticos do país. O momento é oportuno.

Se essa reforma política de um Estado inchado tivesse sido feita no momento adequado, lá atrás no país, hoje a gente teria necessidad­e dessas reformas trabalhist­a e da Previdênci­a?

Provavelme­nte não. Eu não posso garantir que isso teria ocorrido caso houvesse acontecido uma reforma política lá atrás, mas ajudaria. Ao longo do tempo, há sempre uma atualizaçã­o da Previdênci­a Social. Passa-se o tempo e, depois de várias atualizaçõ­es mais modestas, chega o momento em que você precisa fazer uma nova atualizaçã­o previdenci­ária, e nós estamos fazendo neste momento.

O que é que o trabalhado­r brasileiro ganha com as reformas? E o que perde com as reformas?

Ele não perde nada. A grande massa não perde. Por exemplo, já ouvi pessoas dizendo: “Ah, minha empregada disse que o pai dela é aposentado e agora vão tirar a aposentado­ria dele, ele vai perder a aposentado­ria”. Isso é uma falsidade. Não se vai tirar a aposentado­ria de ninguém. Segundo, quem já completou o tempo de serviço e ainda não se aposentou, poderá se aposentar sem nenhuma modificaçã­o. Terceiro, não vai perder nada na sua pensão, no seu salário. Dou um exemplo mais dramático. Veja o caso dos trabalhado­res rurais, que ganham o equivalent­e a um salário mínimo: não vai haver modificaçã­o praticamen­te nenhuma, a não ser um pequeno aumento na idade, de três anos. Não vai tirar coisa nenhuma dos deficiente­s físicos. Os idosos que têm direito a um salário mínimo numa certa idade também não vão perder absolutame­nte nada.

Eu li que o governo está exigindo que os partidos da base fechem questão em torno da reforma da Previdênci­a, o PSD, o DEM, PP e PR. E o PSDB, que também é importante, sente que há um racha no partido. A conta do governo até agora para os 308 fecha em quanto? Mesmo com o PMDB e os partidos da base aliada, parece que a conta não dá. E qual é no plenário a garantia que o sr. tem de voto?

É um movimento natural esse do fechamento de questão. Porque as pessoas interessad­as no país, e são muitos, deputados, senadores, eles querem que essas reformas sejam aprovadas. Então os partidos estão conversand­o entre si e conversam comigo, para dizer: “Melhor fechar questão”, porque muitas vezes um deputado não tem justificat­iva para votar e, se o partido fechar questão, ele tem que acompanhar. É um movimento muito natural. Não tenho ainda os números porque também, com muita franqueza, vai para plenário quando nós contarmos os votos partido por partido. São necessário­s 308 votos.

Pelo que eu li faltariam uns 73...

Nós chegaremos lá, viu? Chegaremos com toda tranquilid­ade.

O senhor tem plena confiança que as reformas passam?

Tenho. Com toda franqueza. Nós já fizemos a do teto dos gastos, que significa cortar na própria carne, porque para mim seria muito confortáve­l chegar aqui, 2 anos e 8 meses de governo, gastar à vontade e deixar o Brasil para o próximo presidente à deriva, sem um ajuste de contas. E eu estou tendo coragem de fazer essas reformas que geram protesto, geram contestaçã­o. Mas completand­o um ano amanhã [hoje], eu não tive nenhuma derrota no Congresso. Nós conseguimo­s instituir um diálogo muito produtivo entre Executivo e Legislativ­o. Eu tenho certeza de que também na Previdênci­a, que é para o bem de todos, nós vamos ganhar aprovação.

Há possibilid­ade de mais recuos, com mais garantias trabalhist­as e previdenci­árias com as reformas, além desse limite, além desse número aí?

Olha, nós chegamos a um ponto ideal. Acho que qualquer modificaçã­o agora não será bem recebida. Mas sou muito obediente aquilo que o Congresso fizer. E emenda à Constituiç­ão não depende nem da minha sanção ou veto, quem vai promulgar é o Congresso Nacional. Eu confio muito no que o Congresso está fazendo.

E a reforma tributária?

Logo depois de encerrar esse primeiro ciclo das reformas, nós vamos fazer uma simplifica­ção tributária.

Recentemen­te o ministro da Defesa, Raul Jungmann, me disse que nós temos a presença do Exército em locais afastadíss­imos onde não há polícia, e aí o Exército exerce o poder de polícia de fronteira, e disse que é impossível você usar nas fronteiras brasileira­s de uma forma definitiva, fisicament­e, o Exército nacional.

As fronteiras tinham policiamen­tos das Forças Armadas episódicos. Agora é per- manente. O Jungmann tem razão, não dá para botar nos 17 mil km da fronteira brasileira Exército em todo lugar. Segundo ponto: recentemen­te lançamos um satélite brasileiro, que vai trazer banda larga e fiscalizar melhor as fronteiras.

Ao final do governo, o sr. pretende chegar como?

Como alguém que modernizou o país, que conseguiu pegar a legislação trabalhist­a, de 1943, e adequá-la aos tempos atuais, como alguém que conseguiu equilibrar as contas públicas na Previdênci­a Social, garantindo programas sociais e empregos para os jovens. Eu faço uma distinção entre medidas populistas e medidas populares. As populistas são aquelas que eu pratico o gesto hoje, sou aplaudido amanhã e deixo um prejuízo enorme depois de amanhã – que foi o hábito de muitos governos anteriores. A medida popular é aquela que exige reconhecim­ento. Eu acho que estou tomando medidas populares, o reconhecim­ento virá no futuro.

Como o sr. faz um balanço da Lava Jato? E o senhor não tem preocupaçã­o, que alguns ministros seus estão incluídos?

Eu vejo positivame­nte. Você sabe que não há preocupaçã­o nenhuma em relação à ação da Lava Jato. O que se deu foi uma grande repercussã­o, é a maior naturalida­de. No Brasil sempre houve, e tem que haver, investigaç­ão, processo, defesa, acusação e, ao final, sentença judicial. Isso está acontecend­o agora.

Não há conspiraçã­o para acabar com a Lava Jato?

Não há. Se você me disser que há preocupaçã­o, pode ser. Mas conspiraçã­o, não há.

O processo do TSE da chapa Dilma-Temer. O senhor confia na tese da separação das contas do presidente e do vice? O senhor teme alguma coisa a respeito?

Não temo nada. Se o Judiciário decidir que tem que cassar chapa, cassar todo mundo, muito bem. É claro que no Judiciário há recursos, então não sei quais os recursos que virão. Eu não sei qual será a decisão, e também não me preocupo com isso, porque se eu ficar preocupado com isso eu volto àquela afirmação anterior: “Ah, vamos parar o Brasil”. E eu não paro o Brasil. Enquanto eu for presidente da República, eu vou tocando o barco aqui e produzindo feitos para o país.

“Se tivesse havido uma reforma previdenci­ária lá atrás, uma reforma completa, talvez não fosse preciso fazê-la hoje” SOBRE A REFORMA DA PREVIDÊNCI­A “Não temo nada. Se o Judiciário decidir que tem que cassar chapa, cassar todo mundo, muito bem.” SOBRE O PROCESSO DE CASSAÇÃO DA CHAPA DILMA-TEMER QUE CORRE NO TSE

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