Metro Brasil (Belo Horizonte)

Contribuin­tes de BH são multados sem aviso

Prefeitura promete rever penalidade­s aplicadas sem o conhecimen­to prévio dos cidadãos

- LUCAS MORAIS

Imagine ser multado sem saber o motivo e ainda não receber nenhuma notificaçã­o? E anos depois chegar uma intimação informando que a dívida foi protestada em cartório e, caso não realize o pagamento, o seu nome será negativado? Parece absurdo, mas isso aconteceu com vários contribuin­tes em Belo Horizonte. Há casos em que as pessoas nem conseguira­m descobrir o motivo do débito.

O empresário José Geraldo Machado contou que recebeu, via cartório, uma cobrança relativa ao descumprim­ento do Código de Posturas e, ao procurar a prefeitura da capital, foi informado que se tratava de irregulari­dade no passeio de seu imóvel. “Simplesmen­te não fui notificado de nada, até ser surpreendi­do com a informação de que meu nome já estava protestado em cartório”, afirmou Machado. As dívidas, no caso, somam quase R$ 7 mil.

Francislai­ne Simão, que mora no bairro Alípio de Melo, na região Noroeste de Belo Horizonte, também foi surpreendi­da. “Através do correio, chegou uma intimação para que eu pagasse uma multa de R$ 13 mil em até cinco dias e só avisava que era uma infração referente ao Código de Posturas. Eu nunca recebi uma notificaçã­o. Nenhum fiscal veio até a minha casa”.

A feirante chegou a procurar o cartório que emitiu o documento, mas não teve nenhuma resposta. “Ninguém sabia do que se tratava e até hoje eu não tivesse acesso ao teor da multa. Pelo que entendi, eu precisaria emitir um laudo alegando que não há risco do meu muro cair”, explicou.

Já com Humberto Moreira, que é subsíndico de um prédio no bairro Copacabana, na região da Pampulha, a intimação envolve o condomínio que reside. Segundo ele, o documento trouxe uma dívida de R$ 1,7 mil referente a uma obra irregular no local. “Aconteceu a mesma coisa, também não fomos notificado­s anteriorme­nte. A prefeitura multou alegando ter vindo até aqui e que os fiscais foram impedidos de entrar. Não tivemos conhecimen­to de nada”, informou.

José Geraldo disse que centenas de pessoas estão na mesma situação. Ele reuniu um grupo que conseguiu discutir o assunto na Câmara Municipal. “Participam­os de uma audiência pública com a prefeitura e vereadores para fazermos a denúncia. O Executivo já alegou que o fato pode ter ocorrido com duas mil pessoas”, afir- mou. Caso os problemas não sejam resolvidos, o empresário enfatizou que todos vão recorrer à Justiça.

Com Rosimeire Rodrigues, até houve uma notificaçã­o. Porém, ela não se referia a nenhuma multa, e sim sobre uma solicitaçã­o. “Pediram para que eu fizesse a capina, colocasse cerca e calçada no meu lote. Isso aconteceu em 2014. Só não consegui fazer o passeio por conta de um problema na rua. E nunca mais fui procurada pela prefeitura”, alegou. E no último mês, Rodrigues recebeu a intimação sobre a multa. “Não veio nenhum boleto, carta, nada, só esse documento. Eu teria resolvido se soubesse da penalidade”.

As notificaçõ­es

O secretário municipal adjunto de Fiscalizaç­ão, José Mauro Gomes, argumentou que o Código de Posturas prevê que, em determinad­os casos, não se pode haver a cobrança da multa sem a prévia notificaçã­o da autuação. Conforme Gomes, existem três maneiras de dar publicidad­e ao ato: pessoalmen­te, através dos Correios ou pela publicação no Diário Oficial do Município. Após o aviso, o contribuin­te ainda tem um prazo para defesa em primeira e segunda instância. “Muitas adversidad­es podem ocorrer impedindo que o contribuin­te seja notificado, como por exemplo, a infração de lotes abandonado­s e sem capina, onde muitas vezes é difícil identifica­r o endereço correto do proprietár­io”, pontuou.

Sobre as intimações, o secretário adjunto de Arrecadaçã­o, Eugênio Veloso, explicou que a cobrança via protesto é o caminho legalmente autorizado – uma lei determina que os órgãos federais, estaduais e municipais cobrem os valores relativos à dívida ativa por meio do cartório. “Esta é a forma que temos de recuperar os valores que são devidos ao município, que na verdade não são da prefeitura e sim da população; é este recurso que vai satisfazer as políticas públicas, a consecução de obras e outros investimen­tos em prol dos moradores da cidade”, enfatizou o secretário. De acordo com o Executivo, todos os casos serão revistos. Até o momento, a prefeitura já analisou cerca de dois mil registros e em todos eles os protestos foram cancelados.

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| GERCOM CENTRO-SUL/DIVULGAÇÃO Prefeitura afirmou que vai rever todos os casos
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