Metro Brasil (Belo Horizonte)

Partidos buscam opções para 2018

Com as principais lideranças citadas em delações da JBS e da Odebrecht, novos nomes ganham força para a disputa pelo governo estadual. Políticos mineiros tentam se descolar de Aécio

- LUCAS MORAIS

As delações premiadas da Odebrecht e da JBS, além da abertura de investigaç­ões na Justiça contra peixes grande da política não ficaram restritas apenas no plano nacional, e também caíram como uma bomba sobre a classe política mineira. Diante de tantas acusações, os partidos buscam se descolar de nomes tradiciona­is e alçar novas lideranças para disputar o Executivo. Além do governador Fernando Pimentel (PT), que deve tentar um segundo mandato, pelo menos quatro nomes ganham peso entre os dirigentes – todos inéditos na campanha estadual.

Após comandar a prefeitura de Belo Horizonte por oito anos, Marcio Lacerda (PSB) é unanimidad­e entre os socialista­s que defendem uma candidatur­a própria. Em conversa com o Metro Jornal, o ex-prefeito da capital confirmou a preferênci­a. “Falta muito tempo para as eleições, o cenário ainda é incerto tanto na economia quanto na política, mas já possível começar a desenhá-lo. E um ex-prefeito de BH é candidato natural ao governo do Estado”, enfatizou. Conforme Lacerda, o partido já iniciou as discussões. “Vamos ver quais alianças são possíveis construir e o que a população pensa sobre esse atual momento”, contou.

Mas o caminho para Lacerda não é tão simples quanto parece. Contra ele pesa a citação de dois delatores da Odebrecht. Ambos denunciara­m o recebiment­o de vantagens indevidas de R$ 3 milhões pelo político. O pedido de investigaç­ão foi enviado à Justiça Federal em Minas e o ex-prefeito negou qualquer irregulari­dade.

Pelo lado tucano, o desafio é tentar se descolar da imagem deixada por Aécio Neves (PSDB) e os escândalos que envolvem ele e sua irmã. No partido, o discurso é de independên­cia do senador, que foi responsáve­l pela palavra final nas decisões políticas no Estado. Nas duas últimas eleições, ele foi fiador das candidatur­as de Pimenta da Veiga, que perdeu no primeiro turno para Pimentel, e do deputado João Leite, derrotado por Alexandre Kalil (PHS). “Nesses últimos anos, vínhamos nos acomodando. E nisso eu culpo o partido como um todo. Talvez por excesso de leal- dade, a maioria ficava omissa aguardando uma decisão do Aécio. Em 2014, por exemplo, ele já estava muito focado na disputa presidenci­al”, apontou o presidente do PSDB em Minas, Domingos Sávio.

O deputado federal garantiu que os tucanos terão candidatur­a própria, apesar de uma ala do partido defender o nome de Dinis Pinheiro (PP), que na última eleição disputou como vice-governador na chapa encabeçada por Pimenta. “Estamos em um momento novo e precisamos compreende­r que a população quer uma nova forma de fazer política. A estratégia do partido é voltar para as suas bases e construir um ambiente para resgatar Minas”, explicou Sávio. “O Dinis Pinheiro é um bom aliado, mas não faz parte do PSDB, pelo menos até o momento. Nos temos várias opções, desde o senador Antonio Anastasia até deputados federais e estaduais. Todos são nomes limpos e qualificad­os”, disse. Deputado estadual por cinco mandatos, Pinheiro também recebeu apoio do presidente estadual do PTB, Dilzon Melo, além de partidos como Solidaried­ade, o próprio PP e de parte do PSB.

Conforme Domingo Sávio, a situação é difícil para todas as legendas e os tucanos não podem ficar presos a uma ou outra liderança. “Confiamos e esperamos que o Aécio possa se defender, mas o partido continua a sua vida”, diz.

Novas lideranças

Após figurar como uma das novas lideranças políticas no Estado, o prefeito de Betim, Vittorio Medioli (PHS), também vem ganhado força para ocupar Cidade Administra­tiva. Distante das denúncias de corrupção e visto como técnico, o prefeito tem uma trajetória respeitada no meio empresaria­l e se fortalece como alternativ­a. Para interlocut­ores próximos, Medioli disse que sua preocupaçã­o nesse momento é com Betim. No mês passado, o político chegou a se reunir com o vice-governador Antônio Andrade (PMDB), que tem se sofrido constantes desgastes com o Pimentel. Porém, o prefeito ainda é pouco conhecido no interior e faz parte de um partido que tem pouca expressivi­dade no Estado possui apenas um deputado estadual.

Rompido com PT

Durante uma visita a Uberlândia, no Triângulo Mineiro, Andrade confessou o rompimento da aliança com o governador de Minas. De acordo com o peemedebis­ta, a decisão tem o aval do diretório estadual do partido, do qual é presidente. “Eu não faço parte do governo por vários motivos. Primeiro porque aquilo que nós combinamos durante a campanha não foi cumprido. O Estado está parado, não há desenvolvi­mento. O governador tem declarado que não fará as reformas que precisam ser feitas e o Estado não cresce, tendo diminuído cada vez mais a importânci­a no cenário nacional”, afirmou.

Investigad­o na Operação Acrônimo por corrupção e lavagem de dinheiro, além de citado nas delações da Odebrecht e da JBS por ter recebido propina enquanto ministro de Desenvolvi­mento e Comércio Exterior no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Pimentel recebeu críticas do ex-aliado, que citou os impasses políticos e as várias denúncias. “Como vice-governador, tenho que estar preparado a todo momento para assumir o governo e o vice só é bom quando está preparado. Eu estou, se a Justiça assim determinar”, explicou. Posicionam­ento parecido foi adotado pelo então vice-presidente Michel Temer (PMDB) nas vésperas do impeachmen­t da petista.

O secretário de Estado de Governo, Odair Cunha, viu com estranheza a fala de An- drade. “Nossas relações políticas com o PMDB de Minas Gerais sempre foram sólidas e em prol do desenvolvi­mento do Estado. Temos posições distintas ao governo Temer que não promove o acerto de contas de Minas com a União, processo fundamenta­l para sanar as contas do Estado e municípios”, alfinetou.

Caso a pressão por uma candidatur­a independen­te prevaleça, o nome que ganhou expressão recentemen­te na cúpula mineira do PMDB é o do deputado federal Rodrigo Pacheco. Figura desconheci­da até a eleição para a prefeitura da capital, Pacheco ganhou projeção ao longo da disputa e chegou a ficar em terceiro lugar, com mais de 118 mil votos, vencendo até mesmo o candidato de Lacerda, Délio Malheiros (PSD).

Já o líder do governo na Assembleia, Durval Ângelo (PT), foi enfático sobre Andrade: “pensei que ele já tivesse rompido. Melhor, nunca foi do governo”, declarou. Segundo o parlamenta­r, Pimentel vai disputar um novo mandato pelo partido. “A última pesquisa mostra que ele é o mais forte. Agora, o Toninho [vice-governador] não fala para ninguém e por ninguém. Ele tem minoria na executiva e no diretório mineiro do PMDB”, acusou.

“Eu não faço parte do governo por vários motivos. O Estado está parado, não há desenvolvi­mento” ANTÔNIO ANDRADE, VICE-GOVERNADOR “Nesses últimos anos, vínhamos nos acomodando. Talvez por excesso de lealdade, a maioria ficava omissa aguardando uma decisão do Aécio” DOMINGOS SÁVIO, DEPUTADO FEDERAL

Desgaste da política

Para o cientista político e pesquisado­r do Centro de Estudos Legislativ­os da UFMG, Lucas Cunha, o envolvimen­to de lideranças com denúncias de corrupção provocou um vácuo político no Estado. “A reputação deles ficou comprometi­da e, em alguns casos, foi até recomendad­o o encerramen­to da carreira política. Isso é muito prejudicia­l para Minas, uma vez que diminui a credibilid­ade de toda a classe política”, argumentou.

Conforme o especialis­ta, essa situação pode levar ao fortalecim­ento de figuras radicais, seja da esquerda ou da direita. “O candidato vem com um discurso salvacioni­sta, de que vai acabar com a corrupção e rejeitar a política. Isso é muito perigoso, já que nela é construído o espaço do conflito e da busca soluções”, finalizou Cunha.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil