Metro Brasil (Belo Horizonte)

TEMER: A DÚVIDA

- CARLOS LINDENBERG LINDBERG.BH@GMAIL.COM

Não apenas uma, mas duas ou três. Esse deve ser o total de denúncias que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, deverá apresentar ao STF contra o presidente Michel Temer. Na primeira, a ser enviada hoje pela ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte, à Câmara dos Deputados, Temer é denunciado por Janot por corrupção passiva – isto é, recebeu dinheiro para prestar favores ao grupo da JBS. Assim como as outras, essa denúncia se baseia fundamenta­lmente nas gravações feitas pelo empresário Joesley Batista com o presidente.

Elas, no entanto, estariam lastreadas por outras provas, como disse Janot ao responder ao ataque de Temer, terça-feira à tarde, num pronunciam­ento em que o presidente se preocupou em atacar o Procurador sem se defender das acusações. E o fez com raiva, deu para notar. Essa primeira denúncia será encaminhad­a à Câmara hoje, onde Temer arma seu bunker de defesa, orientando seus aliados para compor a Comissão de Constituiç­ão e Justiça só com gente amiga – o deputado major Olímpio, do Solidaried­ade, foi destituído da condição de titular porque votaria pela continuida­de da investigaç­ão.

Aliás, aí pode estar o erro estratégic­o de Temer, um político experiente, mas como quase todo político é vaidoso e receoso da verdade. Ora, se o presidente não tem culpa no cartório, se de fato considera as acusações de Janot “fantasiosa­s” e de “pura ilação”, faria melhor se deixasse que a Câmara, onde ele tem maioria, permitir a investigaç­ão pelo Supremo porque assim ele receberia ao final um diploma de probidade e poderia processar o procurador e quem mais o acusa por calúnia, difamação e injúria, além de danos morais. Ao impedir a investigaç­ão –e é o que ele vai fazer – Temer vai deixar crescer na opinião pública no mínimo a dúvida, quando não a condenação. O problema é que quase todo político tem medo de investigaç­ões. Temer deverá ser denunciado também por obstrução de justiça e formação de quadrilha. No primeiro caso porque teria autorizado ou concordado que Joesley comprasse o silêncio de Eduardo Cunha, preso em Curitiba. A fita periciada pela PF deixa isso claro. E por formação de quadrilha se uma investigaç­ão feita no Porto de Santos comprovar que Temer elegeu alguns deputados do PMDB com dinheiro provenient­e de propinas. Assim, Temer está no seu pior momento, mas está seguro de que a Câmara não irá permitir a investigaç­ão pedida pelo STF. Aí ficará a dúvida.

 ??  ?? Carlos Lindenberg é colunista do Metro Jornal. Escreve neste espaço às quintas.
Carlos Lindenberg é colunista do Metro Jornal. Escreve neste espaço às quintas.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil