TEMER: A DÚVIDA
Não apenas uma, mas duas ou três. Esse deve ser o total de denúncias que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, deverá apresentar ao STF contra o presidente Michel Temer. Na primeira, a ser enviada hoje pela ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte, à Câmara dos Deputados, Temer é denunciado por Janot por corrupção passiva – isto é, recebeu dinheiro para prestar favores ao grupo da JBS. Assim como as outras, essa denúncia se baseia fundamentalmente nas gravações feitas pelo empresário Joesley Batista com o presidente.
Elas, no entanto, estariam lastreadas por outras provas, como disse Janot ao responder ao ataque de Temer, terça-feira à tarde, num pronunciamento em que o presidente se preocupou em atacar o Procurador sem se defender das acusações. E o fez com raiva, deu para notar. Essa primeira denúncia será encaminhada à Câmara hoje, onde Temer arma seu bunker de defesa, orientando seus aliados para compor a Comissão de Constituição e Justiça só com gente amiga – o deputado major Olímpio, do Solidariedade, foi destituído da condição de titular porque votaria pela continuidade da investigação.
Aliás, aí pode estar o erro estratégico de Temer, um político experiente, mas como quase todo político é vaidoso e receoso da verdade. Ora, se o presidente não tem culpa no cartório, se de fato considera as acusações de Janot “fantasiosas” e de “pura ilação”, faria melhor se deixasse que a Câmara, onde ele tem maioria, permitir a investigação pelo Supremo porque assim ele receberia ao final um diploma de probidade e poderia processar o procurador e quem mais o acusa por calúnia, difamação e injúria, além de danos morais. Ao impedir a investigação –e é o que ele vai fazer – Temer vai deixar crescer na opinião pública no mínimo a dúvida, quando não a condenação. O problema é que quase todo político tem medo de investigações. Temer deverá ser denunciado também por obstrução de justiça e formação de quadrilha. No primeiro caso porque teria autorizado ou concordado que Joesley comprasse o silêncio de Eduardo Cunha, preso em Curitiba. A fita periciada pela PF deixa isso claro. E por formação de quadrilha se uma investigação feita no Porto de Santos comprovar que Temer elegeu alguns deputados do PMDB com dinheiro proveniente de propinas. Assim, Temer está no seu pior momento, mas está seguro de que a Câmara não irá permitir a investigação pedida pelo STF. Aí ficará a dúvida.