Dono da J&F quer acordo para liberar novos áudios
Caso JBS. Joesley admite ter gravações inéditas que estariam no exterior e seriam usadas como contrapartida para tentar manter a delação
Em depoimento ao MPF (Ministério Público Federal) na última quinta-feira – e tornado público ontem –, o empresário Joesley Batista admitiu que mantém um acervo de conversas gravadas inéditas que são guardadas no exterior. O dono do grupo J&F não soube precisar a quantidade de áudios nem todas as pessoas que foram grampeadas. “Gravei até amigos”, admitiu o empresário.
As gravações devem ser usadas por Joesley como um trunfo para tentar manter a delação premiada.
A estratégia da defesa é preservar as provas intactas e só apresentá-las como condição à continuidade do acordo que previu imunidade com o direito de não ser preso.
O diretor Ricardo Saud também foi questionado sobre a existência de novos áudios, mas negou dizendo que todos que tinha foram entregues na semana passada, embora tenha admitido ter gravado uma conversa com o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma no pedido de prisão que tanto Joesley quanto Saud omitiram ter feito novas gravações e sugeriu que teria partido do ex-procurador Marcelo Miller a ideia de enviar os arquivos para fora do país.
Ex-ministro
Cardozo foi citado como beneficiário de um ‘contrato fictício’ de R$ 70 mil a R$ 80 mil. O escritório de Marco Aurélio Carvalho, só- cio de Cardozo, teria sido contratado para prestar serviço para a JBS. Joesley disse, porém, que o dinheiro servia para manter o bom relacionamento com o ex-ministro.
Nos áudios que levaram à suspensão da delação, Joesley indica ter Cardozo como alvo para chegar a pelo menos cinco ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
“Foi elucubração de bêba- dos em casa e sozinhos”, alegou Joesley no depoimento.
O advogado Marco Aurélio afirmou ter como provar a prestação de serviço e que Cardozo não era sócio na época relatada pelo delator.
O ex-ministro admitiu ter participado de um jantar com Joesley e Saud, mas que recebe a acusação com ‘indignação’ e que as palavras do delator ‘não merecem credibilidade’.
Patrocínio
Joesley também declarou no depoimento que a J&F patrocinou vários eventos e palestras do IDP (Instituto de Direito Público), do ministro Gilmar Mendes, do STF.
Em nota, o IDP admitiu ter recebido R$ 1,5 milhão em patrocínio de junho de 2015 a maio passado, quando os contratos foram rescindidos. “A conduta das empresas do grupo J&F era considerada exemplar, no Brasil e em todos os países onde atuam”, justificou o instituto.