Vacina pode auxiliar no combate ao Aedes
Remédio promete reduzir população do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya
Uma vacina que pode trazer avanços históricos para a saúde pública do Brasil e de todos os países tropicais pode não sair do papel por falta de verba. Desenvolvida por professores e alunos do ICB (Instituto de Ciências Biológicas) da UFMG, a pesquisa promete reduzir em até 60% a população do Aedes Aegypti, mosquito transmissor da dengue, da chikungunya e da zika.
O estudo é coordenado pelo professor Rodolfo Giunchetti, que explica o viés inovador da pesquisa. “É a primeira vacina contra um inseto que se alimenta de sangue com formulação 100% segura”, garante. A ideia é munir a vacina com anticorpos contra o Aedes Aegypti e introduzir nos seres humanos. “E o efeito desses anticorpos no inseto que se alimentar da pessoa protegida é interessante. Cerca de 1/3 dos bichos morrem e, os que sobrevivem, tem o ciclo interrompido ou reduzido: eles colocam menos ovos, que eclodem em menos larvas, e menos larvas se desenvolvem para pupas e adultas”, explica o professor.
Segundo a pesquisa, pode haver redução de até 60% no ciclo do Aedes – o que diminuiria o risco de transmissão de doenças. “A chance de os mosquitos que vierem a sobreviver encontrar uma pessoa infectada é tão pequena que o risco de transmissão dessas doenças passa a ser considerado baixíssimo”, esclarece Rodolfo.
Em 2017, foram registrados 28.431 casos de dengue em todo o Estado; neste ano, somente em BH, já foram 114. O pesquisador assegura que não há nenhum tipo de risco de efeito colateral para quem tomar a vacina e nem de desequilíbrio ambiental com a redução populacional do mosquito. “Os anticorpos não fazem diferença para o ser humano. Em relação ao Aedes, já vivemos sem o mosquito em determinadas épocas e não vimos grande diferença. Além disso, a ideia da vacinação não é exterminar o mosquito, mas reduzir”, ressalta Giunchetti.
Risco de não sair do papel
Apesar do viés inovador e que pode salvar milhões de vidas, a falta de verba pode fazer com que a ideia não saia do papel. Giunchetti explica que os recursos para a pesquisa estão chegando ao fim e devem se esgotar em um ano e meio. “Precisamos encontrar parceiros que nos ajudem com os custos para finalizarmos os estudos em macacos para pas- sarmos para humanos. Sem eles não conseguimos registrar a vacina junto à Anvisa e, sem ele, não tem como comercializar”, lamenta o pesquisador.
A pesquisa é uma parceria firmada entre o CNPq, a Capes e o Ministério da Saúde – é desenvolvida por professores do departamento de Morfologia e Parasitologia do ICB/UFMG. Pesquisadores da UFOP, da Fiocruz e do Instituto Butantan também fazem parte da parceria.
Origem
A ideia de vacinas dessa natureza surgiu no combate à leishmaniose visceral canina, que é transmitida por outro mosquito hematófago. “Desenvolvemos para que o cachorro recebesse essa vacina e a chance dele transmitir pro inseto fosse mínima. Conseguimos demonstrar que era possível e levamos para o Aedes”, relata Rodolfo.
O pesquisador assegura que o estudo se esforça para encontrar uma formulação barata para a vacina. “A gente estima que cada dose fique por volta dos R$ 4, o que não causaria impacto para os recursos do SUS”, destaca.