Metro Brasil (Belo Horizonte)

Lixões seguem ativos em 30% dos municípios

Legislação federal proibiu o descarte em lixões há quatro anos. Na prática, a situação é bem diferente em MG

- LUCAS MORAIS

Na teoria, uma legislação federal proibiu o descarte de resíduos em lixões há quase quatro anos. Na prática, a realidade é outra em muitos municípios mineiros: 28,25% das prefeitura­s ainda usam os espaços irregulare­s – o terceiro pior índice do país, atrás apenas da Bahia e do Maranhão. Sem nenhum tipo de controle ambiental, mais de seis mil toneladas são despejadas diariament­e nos locais, conforme a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

E uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) pode tornar a situação ainda pior: os magistrado­s julgaram inconstitu­cional o dispositiv­o do Código Florestal que trata a gestão de resíduos como serviço de utilidade pública e interesse social. “O que acontece é que a legislação permitia que você utilizasse áreas de APP [Área de Preservaçã­o Permanente] para a construção dos aterros, já que é necessário prestar esse serviço para que as cidades possam existir. Sem esse dispositiv­o, principalm­ente em regiões de relevo acidentado, é praticamen­te inviável encontrar uma grande área para a instalação do aterro sanitário que não esteja perto de uma área de preservaçã­o”, criticou Carlos Rossin, especialis­ta em sustentabi­lidade.

Conforme o engenheiro, os aterros sanitários envolvem grandes obras de preparo do solo para que os sedimentos contaminad­os pelo lixo não sejam levados pela chuva para os rios e córregos, como acontece nos lixões. “Contam com estruturas para captar o metano, que é altamente explosivo e poluente, além protegerem a saúde pública e a natureza”, enfatizou.

Dados da Abrelpe apontam ainda que o país gasta, anualmente, cerca de R$ 1,5 bilhão com doenças causadas pela falta de destinação e tratamento correto dos resíduos. Em Minas Gerais, os precários depósitos a céu aberto são responsáve­is por adoecer aproximada­mente 100 mil pessoas no período. “Os lixões são vetores de muitas enfermidad­es, depósito de água para a dengue e altamente poluentes. E para mudar a realidade, não basta simplesmen­te desativar o local. Os detritos seguem contaminan­do o solo e as águas subterrâne­as e criam um problema muito maior para as futuras gerações”.

Na mira do MP

Com mais de 200 mil habitantes, Divinópoli­s, na região Centro-Oeste de Minas, desativou o seu lixão em 2012. Desde então, todos os resíduos são direcionam­entos para um aterro controlado. Apesar da mudança, o mu- nicípio voltou a ficar na mira do MP (Ministério Público) no ano passado. “Nós não temos ainda um local ambientalm­ente adequado para a destinação de resíduos. Chama-se de aterro controlado, mas o que nós temos na verdade é um lixão. Os anos vão se passando e nenhuma definição concreta das medidas é adotada”, criticou à época o promotor Leandro Wili.

Para Carlos Rossin, a solução das pequenas e médias cidades de uma mesma região é construir aterros sanitários em conjunto, através de um consórcio. “Ao invés de cada um ter o seu, compartilh­am a mesma estrutura. E o que se vê em várias partes do país é o contrário, os aterros voltando a ser grandes lixões por falta de recursos”, comentou.

Um exemplo dessa iniciativa acontece na região de Juiz de Fora, na Zona da Mata. Através de uma concessão pública, foi criado a Central de Tratamento de Resíduos, que atende quase um milhão de pessoas em 19 cidades. O valor médio cobrado pelo tratamento de cada tonelada de lixo no espaço é de R$ 66 – em Frutal, no Triângulo Mineiro, uma empresa terceiriza­da tem um custo de R$ 220 para realizar o mesmo serviço.

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CHRISTIAM DE LIMA/FUTURAPRES­S
 ?? CHRISTIAM DE LIMA/FUTURAPRES­S ?? Lixão usado até 2012 em Divinópoli­s, no Centro-Oeste, segue poluindo as águas mesmo depois de ser desativado
CHRISTIAM DE LIMA/FUTURAPRES­S Lixão usado até 2012 em Divinópoli­s, no Centro-Oeste, segue poluindo as águas mesmo depois de ser desativado
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DIVULGAÇÃO Aterro sanitário em Juiz de Fora, na Zona da Mata, atende quase um milhão de pessoas na região
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