‘Eu quero uma resposta para a morte do meu filho’
A família de Marcus Vinicius da Silva, 14 anos, morto na quarta-feira durante uma operação policial no Complexo da Maré (Rio), vai processar o governo do Estado. O adolescente foi atingido por um tiro no abdômen, no caminho de casa para a escola. Ele passou por cirurgia, mas não resistiu. No mesmo momento, policiais civis trocavam tiros com criminosos no conjunto de comunidades da zona norte.
O corpo do jovem foi velado na tarde de ontem no Palácio da Cidade, em Botafogo. Os pais o cobriram com a blusa da escola manchada de sangue. “Eu quero uma resposta para a morte do meu filho”, cobrou a mãe, a doméstica Bruna Silva. Ela relatou que o estudante disse a ela, enquanto ainda estava lúcido, dentro da UPA (Unidade de Pronto Atendimento), que o tiro partiu de um blindado da polícia: “Ele ainda falou: Foi o blindado, ele não me viu com a roupa de escola”, contou.
Aos prantos, o pai do menino, o pedreiro José Gérson da Silva, lamentou não ter conseguido ver o filho ainda vivo e se despedir de- Os pais de Marcus Vinicius (ao centro) no enterro
le. “Eu estava no trabalho, larguei tudo. Só o vi entubado. Não deu tempo de falar com ele”.
O enterro foi pago pela prefeitura, que decretou luto oficial de três dias. O secretário de Educação, César Benjamin, disse que a prefeitura dará assistência à família. “Estamos providenciando uma casa fora da Maré”.
A Polícia Civil abriu inquérito sobre o caso e uma reconstituição será feita nos próximos dias.
Em homenagem a Marcos Vinicius, estava marcado para ontem um abraço no Ciep Operário Vicente Mariano, onde ele estudava. Mas, por questões de segurança, o ato
foi cancelado e mais de 40 escolas suspenderam as aulas.
Manifestantes tentaram fazer um protesto pela manhã em um trecho da Linha Amarela, próximo à Maré. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um PM golpeando a perna de uma jovem com um pedaço de pau. Em nota, a corporação informou que “foi aberta uma investigação interna para apurar o que aconteceu.”
Crianças vítimas de bala
Um levantamento da ONG Rio de Paz aponta que, só este ano, oito crianças foram vítimas de bala perdida no Rio.