Metro Brasil (Belo Horizonte)

CARLOS LINDENBERG A CONTA DA GREVE

- LINDBERG.BH@GMAIL.COM

Demorou, mas chegou a conta da greve dos caminhonei­ros: a produção da indústria nacional caiu 10,9 % de maio sobre abril, com alguns setores experiment­ando queda de 17%, uma das maiores já verificada em dez anos. Essa greve, aliás, até hoje não está bem esclarecid­a. Para uns, foi uma iniciativa dos condutores autônomos. Para outros, foi um movimento deflagrado pelas empresas de transporte­s que usaram os “peões” para puxar a paralisaçã­o. De fato o que se viu foi uma grande movimentaç­ão de empresário­s mandando dinheiro para seus motoristas e os recomendan­do a não retornarem a seus pontos de origem. É evidente que houve também de alguma forma a adesão dos caminhonei­ros autônomos, até porque tanto os empresário­s como os donos de caminhões queriam a mesma coisa: o aumento no preço do frete, o que afinal conseguira­m depois do país literalmen­te parar na beira das rodovias, obrigando o governo a ficar de joelhos e à mercê dos grevistas. Afinal, os caminhonei­ros e os empresário­s de transporte de carga vinham dando sinais de impaciênci­a e enviando recados ao governo que subestimou o mo- vimento, a tal ponto que provocou o desabastec­imento e quase levou a economia ao colapso.

O preço? Chegou ontem. É evidente que depois de o leite derramado o choro seria inevitável. Daí por que, logo após a greve, setores do governo começaram a retomar o discurso de que a carga não pode ficar nas mãos apenas do setor rodoviário. Mas daí a recuperar o tempo perdido vai o tempo de uma geração, no mínimo. Na verdade, o país não tem um plano nacional ferroviári­o. Por aqui, ao contrário de outros países, o que restava de trilhos praticamen­te desaparece­u. São tímidas as reações em sentido contrário. Uma obra aqui, outra ali, ao passo que a gasolina e o diesel disparam desde que seus preços foram atrelados pelo governo Temer ao mercado internacio­nal e submetidos às oscilações do dólar. Para se ter ideia, a gasolina subiu em 12 meses 52,4% e o diesel 49,9% – nas refinarias - praticamen­te o dobro do que subiram nas bombas. Ah, sim: a nova lei sobre transporte de carga, aprovada no calor da greve, vai reduzir a arrecadaçã­o da União em R$8,6 bilhões de reais, em 2018. E olha que a greve durou apenas 11 dias. E o país ainda não sabe como fazer para construir ferrovias – deveriam ler sobre o Barão de Mauá, o precursor do transporte rodoviário em território brasileiro.

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denberg é colunista do Metro Jornal. Escreve neste espaço às quintas.

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