O BRASIL AMADURECE FUTURO.
IBGE projeta que um quarto da população terá 65 anos ou mais em 2060. Para analistas, envelhecimento reflete avanço na saúde, mas exige cuidado com a economia
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) alertou ontem para uma circunstância com a qual o Brasil terá de lidar cada vez mais nas próximas décadas: a proporção de pessoas com 65 anos ou mais, que hoje é de 9,2% da população, subirá para 25,4% em 2060.
Segundo demógrafos ouvidos pelo Metro Jornal, este aumento previsto para a parcela de idosos no país é explicado por um conjunto de fatores. A necessidade de atenção a esta situação, no entanto, não está nas causas do envelhecimento da população, mas na consequência.
“Esse envelhecimento gera vários desafios para as políticas públicas, mas o mais óbvio está na previdência. Por mais que haja o debate se existe ou não o deficit hoje, o regime previdenciário que temos é inviável a longo prazo. Então é fundamental pensar numa reforma, e para o futuro vai ser ainda mais”, analisa a demógrafa Raquel Guimarães, da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
O efeito econômico, conforme apontam as projeções, não será fruto apenas das aposentadorias: a população economicamente dependente – pessoas com menos de 15 anos ou a partir de 65 –, que hoje é de 30,6% (63,73 milhões de habitantes para um total de 208,49 milhões), subirá: em 2060, o grupo economicamente inativo repre- sentará 40,2% da população – 136,50 milhões de pessoas nessa faixa etária dentre os 228,28 milhões de brasileiros.
Sob outra análise numérica, hoje o Brasil tem cada cem pessoas produtivas sustentando 44 economicamente inativas. Daqui a 40 anos, serão 67 dependentes para cada cem trabalhadores ativos.
“O envelhecimento é dado: em um país como o Brasil, não tem como retornar e é muito difícil frear. O que cabe à sociedade é se postar ante a essa realidade: como pensar políticas para enfrentar o envelhecimento”, diz Tadeu Oliveira, demógrafo do IBGE.
Especialistas afirmam que o envelhecimento, evidentemente, não é um sinal ruim, já que indica, entre outras coisas, que a população vive mais. “Os casos são, sem dúvida, ligados a esse avanço da expectativa de vida e da medicina” analisou Marcelo Nery, especialista em estudos da população da Fundação Getulio Vargas, à TV Bandeirantes.
Para os demógrafos, no entanto, melhorias na saúde até refletem no envelhecimento por frearem as taxas de mortalidade, mas o mais determinante é a queda no número de filhos por mulher. “No Brasil, o que sempre ditou o ritmo da demografia foi a taxa de fecundidade”, explica Oliveira. O número de filhos por mulher no país, que hoje é de 1,77, cairá para 1,66 em 2060, projeta o IBGE.
Homens e mulheres
Dos 208,49 milhões de brasileiros hoje, há 106,52 milhões de mulheres (51,1%) e 101,97 milhões de homens (48,9%). Nas próximas quatro décadas, essa diferença será acentuada ligeiramente: serão 51,4% de mulheres e 48,6% de homens.
A população com 90 anos ou mais é hoje, no total, de 731,94 mil habitantes, ou 0,3% dos brasileiros. A previsão é de que esta fatia chegue à marca de 1 milhão de pessoas em 2025. Já em 2060 serão 5,08 milhões com pelo menos 90 anos, ou 2,2%.