3 ANOS DE UMA FERIDA QUE NÃO CICATRIZA
Caravana de atingidos da barragem da Samarco inicia hoje, data da tragédia, caminhada que percorrerá o trajeto da lama de rejeitos
Há três anos o dia 5 de novembro entrou de forma trágica para a história brasileira. A data marca o dia exato do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, controlada pela mineradora Samarco. Desde aquele fatídico dia, o crime ambiental que devastou o distrito de Bento Rodrigues e sepultou o ecossistema do Rio Doce continua sem respostas claras na Justiça. Nenhuma casa foi reconstruída, milhares de atingidos não são reconhecidos e a população prejudicada ainda sente os reflexos causados pelo mar de lama que saiu de Minas Gerais e chegou ao mar do Espírito Santo.
Para não deixar que o desastre caia no esquecimento, moradores atingidos pelo rompimento da barragem realizam uma marcha que começou ontem e vai percorrer o mesmo trajeto da lama de rejeitos de minério de ferro entre Mariana e Vitória, no Espírito Santo. Segundo Letícia Oliveira, integrante do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), o intuito é denunciar a lentidão na reparação dos danos e no ressarcimento das vítimas. “Estamos fazendo uma marcha ampla, que vai unir os atingidos de toda a Bacia do Rio Doce para lutarmos juntos, por que só assim somos ouvidos pela sociedade e atendidos pelas empresas envolvidas” explica.
O primeiro ato da caravana, realizado ontem em Mariana, reuniu mulheres, crianças e idosos atingidos pela tragédia ao longo de toda a bacia do Rio Doce. Eles denunciam o descaso por parte da Fundação Renova – entidade criada em 2016 para executar as ações de compensação socioeconômica e socioambiental após o desastre da cidade mineira.
“As mulheres não são reconhecidas pela Renova, somos 70% que não são atendidas por nenhum dos programas em toda a bacia. Nós é quem temos que lidar com os problemas de saúde, a falta do território que tínhamos antes, a perda de laços comunitários e fami- liares que o crime trouxe. Devemos ser reconhecidas e respeitadas”, afirma a atingida Márcia Maria, de Colatina, no Espírito Santo.
“Há três anos nós lutamos e ainda não temos a resposta que necessitamos. Tenho muita saudade da minha comunidade, saudade da minha casa, saudade do meu povo e dos meus vizinhos para conversar. Hoje eu vejo que parece que somos nós os culpados desse crime, e não a empresa. Mas com muita fé, muito amor e muita luta iremos vencer, pois nós não vamos desistir”, relata Vera Lúcia Silva, moradora da comunidade Gesteira, distrito de Barra Longa.