KIKO PISSOLATO
Ator encarna policial transformado em justiceiro que mata políticos corruptos em ‘O Doutrinador’. Longa se vale do cinema de ação para adaptar a HQ homônima de Luciano Cunha
‘A VIOLÊNCIA SURGE COMO CATARSE’
Embalada pelas manifestações de junho de 2013, a HQ “O Doutrinador”, de Luciano Cunha, projetou o cansaço da população com a corrupção em um anti-herói que extermina figuras da política brasileira. A trama foi agora adaptada aos cinemas em um longa dirigido por Gustavo Bonafé, que está em cartaz. Kiko Pissolato vive Miguel, um policial que usa seu treinamento especial para se vingar de uma tragédia pessoal.
Você não teme que o filme negue a política?
Para o Miguel, a política é al- go falido, tanto é que ele toma medidas extremas. Mas não há redenção para ele. O problema, na realidade, é a corrupção intrínseca no comportamento de cada um de nós, nas pequenas e grandes ações. Mas o filme ganha camadas por causa do momento político que a gente vive.
Houve preocupação em apresentar as falhas morais do personagem?
Sim. Se não fosse desse jeito, eu não faria. Essa é uma obra de ficção, não há paralelo com o real a não ser com o arquétipo dos políticos. Deus me livre fazer um psicopata, que não desperta empatia. A única justificativa para o Miguel fazer o que faz é uma dor tremenda. A violência surge como catarse dentro de uma obra de arte que é entretenimento. A ideia é que ela esteja no cinema para vermos quão ruim ela é.
É possível traçar um paralelo entre o Doutrinador e outro herói americano?
O Luciano tem como referências “V de Vingança” e o Justiceiro, que também parte de uma tragédia familiar em busca de vingança e não tem exatamente superpoderes.
Você teve alguns problemas de saúde. Fazer esse papel é uma catarse pessoal?
Faço mais de 90% das cenas. É um prazer poder assistir e saber que sou eu atrás da máscara depois de ter tido um câncer e ter quebrado os dois pés. Quando me propõem um desafio, tenho que ir. Tive a oportunidade de poder construir o corpo que acreditava para esse personagem.