Relatório cita que Vale sabia do risco desde 2017
Documentos entregues ao Ministério Público de Minas mostram que barragem I da empresa em Brumadinho aparecia entre as listadas na ‘zona de atenção’. Vale se defende e afirma que laudos não apontavam risco iminente de rompimento
Um estudo realizado em novembro de 2017 e outubro de 2018 por geotécnicos da Vale mostrou que as chances de rompimento da barragem I na Mina do Córrego do Feijão em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, estavam duas vezes acima do ideal. Ainda conforme o documento, obtido pelo MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) nas investigações, a estrutura ficava em uma “zona de atenção” – área próxima a núcleos urbanos, em que um eventual rompimento não permitisse uma evacuação pelas autoridades, como ocorreu na cidade mineira. Até o momento, a Defesa Civil confirmou 165 mortes e outras 155 pessoas seguem desaparecidas.
O Metro Jornal teve acesso aos documentos, que atestam a possibilidade de liquefação (acúmulo de água) ou erosão interna na barragem, construída em 1976 pela Ferteco Mineração. Já a estrutura IV-A, que também entrou em colapso devido ao rompimento, poderia transbordar. Juntas, o prejuízo calculado pela Vale em uma eventual ruptura no complexo seria de US$ 2,6 bilhões, que corresponde a quase R$ 10 bilhões. Para o MPMG, o desastre em locais
“formalmente atestados como estáveis demonstra que a mineradora não está adotando medidas minimamente necessárias para manter a segurança de seus empreendimentos”. Por fim, o órgão diz que a vida humana e o meio ambiente no entorno de seus empreendimentos foram deixados em último plano.
Já a Vale reforçou, em nota, que todas as suas estruturas receberam laudos de segurança e estabilidade por auditorias externas e independentes. “O documento citado é um estudo realizado com base em metodologia interna, na qual os geotécnicos da própria Vale reavaliam as estruturas já certificadas por auditorias externas como seguras e estáveis. Essa metodologia utiliza um padrão mais rígido que a legislação nacional e internacional vigente e, por isso, tem por objetivo prospectar medidas adicionais de prevenção”, justificou.
Riscos em Minas
Além das chances de rompimento atestadas na Mina do Córrego do Feijão, os documentos da Vale apontaram “severo risco de rompimento”, segundo o MPMG, em outras oito barragens localizadas em Ouro Preto e São Gonçalo do Rio Abaixo, na região Central do estado; e Nova Lima e Brumadinho, na Grande BH (veja ao lado).
O órgão pede que a Justiça exija à Vale a elaboração de um plano emergencial e de segurança nas regiões, além de medidas de reparo e reforço. “A insegurança permeia o cotidiano de todas as pessoas que são obrigadas a conviver com empreendimentos minerários [...], tendo a recente catástrofe colaborado com a desconfiança e o desamparo”, finalizou o MPMG.