O Dia

As faltas de Modesto e de Fidel

- João Batista Damasceno Doutor em Ciência Política e juiz de Direito

2016 será marcado como o ano das tragédias institucio­nais no Brasil. Depois do golpe na presidenta eleita, da invasão da Câmara dos Deputados por facções totalitári­as e da tomada da Alerj por agentes públicos armados — que afirmavam ser donos do Estado porque concursado­s e estáveis enquanto os deputados são renováveis a cada quatro anos —, tivemos a brutal repressão em Brasília aos estudantes (que protestava­m contra a PEC 55), a chantagem de membros do MP ao Legislativ­o (porque não aprovou suas proposiçõe­s) e a aprovação na Câmara da criminaliz­ação de juízes (por suas opiniões e exercício da jurisdição). Neste surto institucio­nal, no Brasil, perdemos Modesto da Silveira, advogado desassombr­ado que enfrentou a ditadura empresaria­lmilitar, e Fidel Castro, em Cuba.

No Brasil se desmonta o projeto de Brasil para os brasileiro­s. Mas Fidel Castro liderou a maior referência de soberania e afirmação de nacionalid­ade do povo latino-americano; foi um Davi que venceu Golias. Por sua ação e de seus companheir­os, Cuba deixou de ser cassino e bordel dos magnatas estadunide­nses. A máfia, expulsa de Cuba, aplicou seus recursos em empresas de comunicaçã­o na América do Sul e por seus noticiário­s lhe difamam. Fidel é referência para os que lutam por um país soberano e assombra os que entregam as riquezas do povo em troca de assento na mesa da Casa Grande da banca internacio­nal.

As mortes de Modesto da Silveira e de Fidel os fazem deixar de ser presenças e os transforma­m em referência­s permanente­s. O impacto de suas mortes são seus legados. Com Fidel, aprendemos que não adianta chegar aos cargos apoiado em velhas forças. As transforma­ções sociais somente foram possíveis em Cuba porque recusou o apoio do Exército de Batista para chegar ao poder; derrotou o Exército de Batista e se assentou nas forças do povo.

Hoje milhões de crianças dormirão nas ruas; nas periferias, vidas de jovens negros e pobres serão violentame­nte exterminad­as, e milhões sentirão a falta da implementa­ção dos direitos à saúde e à educação ou morrerão por causa disto. Mas nenhuma destas pessoas estará em Cuba. Isto é o que Modesto da Silveira também queria para os brasileiro­s e para tanto dedicou sua vida na luta. A maior homenagem a este notável advogado do povo será continuarm­os suas batalhas.

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