CAMPOS ATLÉTICO
Clube criado por mulheres e negros em 1912 estreia na Primeira Divisão
Apesar de novato na série A do Campeonato Carioca, o Campos Atlético Associação tem história de pioneirismo no futebol estadual. Fundado em 1912, o ‘Roxinho’ do Norte Fluminense foi criado por negros e mulheres, algo revolucionário numa época em que o elitismo prevalecia no esporte. Mas, fadado ao esquecimento, o clube poucas vezes é citado como referência no combate ao preconceito dentro e fora dos gramados, como Bangu e Vasco.
A história do Campos começou na casa do ferreiro Angelo de Carvalho, no bairro do Caju. Era comum reunirem-se ali familiares e amigos, sempre com festas regadas a feijoada. Entre os convidados, o genro Wanderley Barreto, que, casado com Angelina, foi o maior entusiasta da ideia de fundar um clube de futebol.
“Eles tinham, sim, uma motivação política. Queriam se inserir na sociedade e sabiam que o futebol era uma maneira de serem aceitos”, aponta o jornalista Wesley Machado, autor do livro “Saudosas Pelejas: A História Centenária do Campos Athletic Association”.
Numa cidade com tradição escravagista e muitos negros, o Campos surgiu como uma agremiação em que aquela parcela da população se via representada. “Não eram um ou dois jogadores negros. O time tinha dez negros e um branco. E os dirigentes eram negros”, explica Machado.
O autor do livro se refere ao time de 1918, quando o Campos venceu o primeiro campeonato campista de sua história — depois dele, viriam outros quatro títulos. As competições eram disputadas pelos clubes locais, com destaque para o Americano e o Rio Branco, mais ligados às elites, e o Goytacaz, o preferido dos setores populares.
Criado no Caju, o clube escolheu as cores preto, branco e roxo por motivos específicos. Preto e branco simbolizavam a união das raças, já o roxo, o cemitério daquele bairro. Só que o ‘Roxinho’ migrou em 1932 para a Coroa, ganhando o apelido de ‘Leão da Coroa’. Desde 1951, o estádio Angelo de Carvalho fica no Parque Leopoldina.
E, ao contrário de vários times do interior, o Campos foi prejudicado pela fusão dos estados do Rio e da Guanabara, em 1975. Como Americano e Goytacaz foram os escolhidos da cidade para disputar o campeonato estadual, o Campos caiu no ostracismo.
Time campeão em 1918 tinha dez negros e um branco. Dirigentes também eram negros