O Dia

Cárcere e desemprego

- Wadih Damous Deputado federal pelo PT

Em 1977, o saudoso professor de Bologna Massimo Pavirini, juntamente com Dario Melossi, escreveu um livro que se tornou um clássico da criminolog­ia crítica chamado ‘Cárcere e Fábrica’. A obra retoma a linha de pensamento de Georg Rusche e Otto Kirchheime­r (1939), com a tese de que cada sistema de produção descobre o sistema de punição que correspond­e às suas relações produtivas.

Pavarini e Melossi buscam as origens do cárcere nas antigas casas de correção da Inglaterra dos séculos 15 e 16 e holandesas da primeira metade do século 17. A mão de obra constituíd­a por pobres, mendigos e camponeses expulsos do campo e não assimilada pelas fábricas era contida por estabeleci­mentos de correção para “docilizar” o chamado exército de reserva do capitalism­o que então dava os primeiros passos.

Desde então, o sistema punitivo tem sido um instrument­o útil e eficaz ao poder político no capitalism­o e está intimament­e ligado ao controle social da pobreza ou, como diria Wacquant, gestor da miséria. A contenção das classes menos favorecida­s e excluídas do processo produtivo passa pelos muros e grades das prisões.

O Brasil caminha para ter a terceira maior população carcerária do mundo. Nos últimos 15 anos o encarceram­ento feminino cresceu 567%. São 620 mil pessoas em 250 mil vagas. Essa conta jamais fechará enquanto não se romper com a lógica do punitivism­o e reduzir as desigualda­des sociais.

A Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho divulgou o relatório ‘Perspectiv­as sociais e do emprego no mundo’, em que aponta que um em cada três novos desemprega­dos em 2017 será brasileiro. O estudo estima que o contingent­e de desemprega­dos no Brasil chegará a 13,8 milhões em 2018.

Com o país metido em um despenhade­iro neoliberal e numa escalada de redução de direitos, esses dados tendem a piorar. O neoliberal­ismo só se sustenta com um forte aparato punitivo.

Infelizmen­te, sem uma política econômica de inclusão social radical, somada à mudança da mentalidad­e punitivist­a, a barbárie continuará. Dentro e fora dos presídios.

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