A ÁGUIA CAMPEÃ VOLTOU!
Em disputa acirrada com a Mocidade, Azul e Branca de Tia Surica (foto) decide o título no último quesito.
Fim de jejum, início de festa. Campeã absoluta pela primeira vez no Sambódromo, a escola que sempre teve a hegemonia de títulos do Carnaval, desde os anos 30, voltou a fazer o mundo do samba feliz, não apenas a região de Oswaldo Cruz e Madureira. Na quadra da escola, cinco minutos antes do início da apuração, o público deu as mãos e rezou um Pai Nosso para abençoar o momento e trazer sorte. A reza foi forte e deu resultado. E a Rua Clara Nunes explodiu em felicidade como há décadas não se via.
A conquista portelense teve uma dimensão tão grande para o mundo do samba que, pouco antes do fim da apuração, na Sapucaí, a diretoria da Mangueira aplaudiu de pé a vitória da maior campeã do Carnaval. Não foi uma reação protocolar. Na quadra da escola, bem como na da vice-campeã Mocidade, os torcedores tiveram a mesma reação.
“Esta vitória não é só da Portela, mas do samba, do Carnaval, da cultura popular. Uma escola como a Portela não pode ficar tanto tempo sem vencer”, disse o presidente Luis Carlos Magalhães, que assumiu o posto no fim do ano passado, após o assassinato de Marcos Falcon.
Magalhães disse que o título trará a paz necessária para a Portela, uma escola marcada não apenas pelos muitos títulos, mas pelas históricas desavenças entre seus componentes. “Vamos deixar de carregar aquela cruz pesada dos anos sem títulos para formar sambistas, formar lideranças, exaltar a nossa história, tão conhecida em todo o Brasil. É a vitória da alegria e do alívio”, disse o dirigente.
Um exemplo disso estava na quadra. Ícone da escola, a ex-porta-bandeira Vilma Nascimento, de 78 anos, fez questão de assistir à apuração junto com a comunidade portelense.
“Nunca assisto à apuração da quadra, mas hoje (ontem) vim e fui pé quente. Vi minha filha ser premiada com os 40 pontos! É uma emoção muito grande”, disse Dona Vilma, mãe da atual porta-bandeira, Danielle Nascimento.
O carnavalesco Paulo Barros, como de costume, não deu as caras durante a apuração. Sua permanência na escola no ano que vem ainda é uma incógnita. “Não sei se ele fica, mas se ele sair, vai arrumar um problema danado, pois todo mundo aqui irá atrás dele”, brincou o presidente Luis Carlos Magalhães.
Um dos carros mais impactantes do desfile de Paulo Barros retratou o drama do Rio Doce, tragicamente afetado pelo maior desastre natural da história do Brasil: o rompimento de barragem da mineradora Samarco, na cidade mineira de Mariana, em 2015.
O presidente da Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Doce, José Francisco Silva de Abreu, comemorou a vitória portelense. Para ele, é essencial falar dos rios brasileiros em momento tão crítico como este. “Os rios estão muito sofridos. Tem tido uma exploração muito desordenada e injusta da natureza. E maltratar a natureza é dar um tiro no pé”, disse José Francisco.
“Tem tido uma exploração muito desordenada e injusta da natureza. Maltratar a natureza é dar tiro no pé José Francisco, que se emocionou com o desfile da Portela