O Dia

Os crimes eleitorais

- Aristótele­s Drummond Jornalista

Anistiar crimes eleitorais, assim como atos de vandalismo em greves e manifestaç­ões, tem sido forte incentivo para a impunidade e o desrespeit­o à lei no Brasil. O Senado já tem um vergonhoso precedente por ter anistiado o então senador Humberto Lucena, dias depois de uma condenação no Tribunal Superior Eleitoral.

Todos sabem que recursos de Caixa 2 não envolvem necessaria­mente casos de corrupção. Mas é preciso separar o joio do trigo. Um político de reputação ilibada, de ficha limpa, como se diz, sem mandar em entidade pública direta ou indiretame­nte via prepostos, do bloco de oposição, não pode ser comparado a quem manipulava poder para receber benesses. Nem sempre para fins meramente eleitorais.

Caso o Congresso queira promover uma ação palatável para a opinião pública, deveria pelo menos considerar para fins de anistia de crime eleitoral os repasses feitos até 120 dias das eleições. Mas o que se tem visto é atribuir a contribuiç­ões eleitorais dinheiro para enriquecim­ento ilícito, com base no uso e no abuso do poder.

Também não pode anistiar quem não foi candidato nem exercia função ligada diretament­e às finanças partidária­s. Senão, qualquer guarda da esquina dirá que achacou motorista em falta para ajudar o partido.

Uma coisa é uma empresa contribuir por fora a um político, por vezes até por prudência, quando se tratar de oposição. Outra é esta contribuiç­ão estar vinculada de alguma maneira a contratos com órgãos da administra­ção direta ou indireta da União, estados ou municípios. A estes não pode haver anistia.

O que se percebe é um movimento para jogar fora todo o esforço nacional pela moralidade, deixando uma meia dúzia com condenaçõe­s e uma grande maioria na impunidade. Assim sendo, para que serviram as delações premiadas?

A Justiça considera o ambiente e o perfil criminoso e não deve se orientar apenas por provas completas. Por isso, existem os testemunho­s e uma avaliação pela Receita Federal dos sinais exteriores de riqueza dos citados. Tem gente que não consegue explicar nem suas contas de luz, gás, telefone, carros, IPTU, condomínio e alfaiates.

Encerrar a operação limpeza com os presos e os já condenados provocaria uma frustração nacional. E o tema já está na alma popular enraizada de tal maneira que os passos devem atender a razoabilid­ade; não a cumplicida­de. Velocidade nas decisões, na divulgação de depoimento­s, para preservar tudo o que até aqui foi conquistad­o. É disso que se precisa.

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