O Dia

VÍTIMAS DA HANSENÍASE E DO DESCASO

Colônia e hospital Cu rupai ti, onde vive mesão tratados portadores de hanseníase, agonizam em Jacarepagu­á

- Do estagiário Rafael Nascimento sob supervisão de Maria Inez Magalhães e Claudio De Souza

Acrise nas finanças fluminense­s ampliou o estado de abandono e descaso no Instituto Estadual de Dermatolog­ia Sa nit ária(IEDS ), em Jacarepagu­á, destinado aportadore­s de hanseníase. Nos 10 pavilhões do hospital e colônia Curupaiti, como é conhecido o complexo, vivem quase 2 mil pessoas, entre pacientes, ex-pacientes já curados, além de funcionári­os e ex-funcionári­os, com seus familiares. A enfermaria, que atendia a 700 doentes por mês, fechou na quinta-feira, dizem moradores do local. Além disso, a farmácia não funciona há 20 dias por falta de remédios.

“Fui diagnostic­ado coma doença em 1991. Há 20 anos vivo aqui e isso não é mais lugar para um ser humano viver. A situação piorou tanto que temos que usar da nossa aposentado­ria para comprar remédios e gaze para o nosso tratamento ”, lembra o aposentado Jorge Carnaúba ,69, que mora em um dos pavilhões.

Na manhã de ontem, a equipe do DIA entrou no Pavilhão Jesuíno de Alburquerq­ue, considerad­o pelos moradores o que está em pior estado. Há lixo espalhado pelos corredores, banheiros sem portas e sujos, além de alas inteiras fechadas por falta de manutenção. A cozinha onde aalimentaç­ãoép reparada está em péssimo estado. A falta de estrutura e a necessidad­e de uma intervençã­o imediata são visíveis .“Olha o estado disso, você achaque um paciente tem condições de se tratar e se curar em um local desses? Poi sé, esseéolug arque vivemos ”, desabafa um portador da doença, de 60 anos, que vive no local desde 1968 e pediu paranã o ser identifica­do.

“Estamos abandonado­s, esquecidos pelo poder público. Já faltavam médicos e enfermeiro­s e agora não temos mais a enfermaria. Encostaram um caminhão elevaram tudo ”, conta Michele Simões ,32 anos, portadora da doença há 17 anos. Ela reside na colônia, onde trabalhou na limpeza por vários anos. “Antigament­e, o hospital não era assim. Hoje não temos o básico, como remédio. Sema enfermaria, se um paciente passar mal aqui ou vai para a UPA (Unidade de Pronto-Atendiment­o) ou morre”, afirma.

“Chegaram aqui com um caminhão e disse: Acabou! Vamos retirar todos os leitos e a enfermaria não vai funcionar”, diz um funcionári­o que pediu anonimato e tem receio que o hospital todo feche as portas. O atraso no pagamento de funcionári­os é outro problema.

Questionad­a sobre o fim da enfermaria, denunciada por funcionári­os e pacientes, a Secretaria estadual de Saúde respondeu apenas que não há previsão de fechamento da unidade. O órgão afirma ainda que os medicament­os da farmácia são utilizados durante o atendiment­o e que há um refeitório que fornece 480 refeições por dia. A secretaria acrescenta que, na área do instituto, há residência­s onde vivem ex-pacientes do hospital cuja assistênci­a em saúde não é de responsabi­lidade do IEDS.

 ?? CLÉBER MENDES ?? Crise financeira do governo agravou a já dramática situação do Instituto Estadual de Dermatolog­ia Sanitária, ou Hospital Curupaiti, em Jacarepagu­á. Enfermaria que atendia 700 pacientes fechou na quinta-feira, e a farmácia não funciona há 20 dias por...
CLÉBER MENDES Crise financeira do governo agravou a já dramática situação do Instituto Estadual de Dermatolog­ia Sanitária, ou Hospital Curupaiti, em Jacarepagu­á. Enfermaria que atendia 700 pacientes fechou na quinta-feira, e a farmácia não funciona há 20 dias por...
 ?? FOTOS CLEBER MENDES ?? Segundo pacientes e funcionári­os, a enfermaria do complexo fechou na quinta-feira e não há mais medicament­os
FOTOS CLEBER MENDES Segundo pacientes e funcionári­os, a enfermaria do complexo fechou na quinta-feira e não há mais medicament­os
 ??  ?? A cozinha de um pavilhão está com cadeiras furadas e sujas. Michele Simões, portadora há 17 anos da doença, diz : ‘Estamos abandonado­s’
A cozinha de um pavilhão está com cadeiras furadas e sujas. Michele Simões, portadora há 17 anos da doença, diz : ‘Estamos abandonado­s’
 ??  ?? Jorge diz que tem de comprar remédios e até gaze para o tratamento
Jorge diz que tem de comprar remédios e até gaze para o tratamento
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil