O Dia

Quinta da Boa Vista e Passeio Público são parte do roteiro de romances históricos da cidade

- Alessandra Monnerat, Claudio de Souza

Em 452 anos, as praças, ruas e esquinas do Rio testemunha­ram a vida de vários casais de namorados, esposos e amantes, famosos ou não. Com a ajuda dos historiado­res Milton Teixeira, Rodrigo Rainha e João Baptista Ferreira de Mello, O DIA preparou um roteiro com as aventuras de amor históricas da cidade.

A Quinta da Boa Vista, que abrigou o Palácio da Família Real, entre 1808 e 1889, foi palco de paixões arrebatado­ras no século XIX. A mais conhecida delas entre D. Pedro I e a Marquesa de Santos, ou Demonhão e Titília, como se tratavamos­amantes.Oimperador acomodou Domitila de Castro Canto e Melo bem em frente à Quinta, em um solar que atualmente é o Museu da Moda Brasileira.

Anos mais tarde, D. Pedro II também teria sua cota de amores. Apesar de ter tido um casamento relativame­nte feliz com D. Teresa Cristina Maria, o monarca se envolveu romanticam­ente com a Condessa de Barral e Pedra Branca, tutora das princesas. Depois que Margarida de Barros saiu da corte, os dois continuara­m a trocar correspond­ências amorosas por 25 anos, até a condessa morrer em Paris.

No Centro, o Passeio Público seria fruto de um amor platônico entre o vice-rei Luís de Vasconcelo­s e Souza e uma pobre jovem chamada Suzana. A moça, que já era noiva, morava na beira da lagoa do Boqueirão, onde eram despejados os esgotos do Rio. Joaquim Manuel de Macedo, o autor de ‘A Moreninha’, conta que o nobre resolveu aterrar o espaço para, invés de flores, oferecer todo um jardim para a amada. A Fonte dos Amores, projetada por Mestre Valentim, seria prova dessa afeição. A história foi até enredo de escola de samba, com a Portela, em 1988.

Voltando aos dias atuais, a professora Juliana Almeida, de 20 anos, e o designer gráfico Patrick Freitas, 23, como muitos apaixonado­s antes deles, também escolheram os jardins e lagos da Quinta da Boa Vista para marcar o seu amor. Para celebrar o Dia dos Namorados e também 15 de junho, quando comemoram dois anos vivendo juntos, eles fizeram um ensaio fotográfic­o no parque. “Nos conhecemos no Ensino Médio, na escola. Nessa época, nos encontráva­mos na Quinta, um lugar que até hoje representa a nós paz e tranquilid­ade”, disse a apaixonada. Praça José de Alencar A praça no Flamengo registrou o episódio mais violento de um romance conturbado entre a rainha Carlota Joaquina e o comendador Fernando Carneiro Leão — que era casado. Ali, sua esposa, Gertrude, foi morta a tiros pelo bandido conhecido como ‘Orelha’, enquanto descia da carruagem. O crime teria sido a mando da monarca portuguesa. Depois que o assassino

■■foi para a cadeia, segundo Milton Teixeira, D. João VI mandou queimar o processo e ninguém mais foi preso. SolardaMar­quesadeSan­tos Se depender das cartas trocadas entre D. Pedro I e a Marquesa de Santos, este casarão em São Cristóvão viu coisas impublicáv­eis naquela época. Os bilhetes tórridos, assinados pelo nobre como Demonhão

■■ou Fogo Foguinho, algumas vezes, continham desenhos do pênis imperial ou pêlos pubianos anexos. ‘Titília’ não deixava por menos: ela dominou a técnica do pompoarism­o, flexão dos músculos vaginais, para deleitar o amante. Cemitério São João Batista O coração de Machado de Assis pertencia inteiramen­te a Carolina Augusta Xavier de Novais.

■■Para consolidar a união, porém, eles tiveram que enfrentar o preconceit­o. Machado era mulato e a mulher, branca e portuguesa. Ela morreu em 1904 e ele, quatro anos depois. A Academia Brasileira de Letras, fundada por Machado, permitiu então que Carolina fosse transferid­a para o túmulo dos imortais, no Cemitério São João Batista, abrindo um precedente para os acadêmicos que o seguiram.

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DIVULGAÇÃO A Quinta é palco também de romances atuais, como o de Juliana e Patrick

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