Salve a diversidade
CSiro Darlan Desembargador do TJ e membro da Associação Juízes para a Democracia omemorando a Festa de São Pedro e São Paulo, a Igreja celebrou a diversidade dentro da doutrina lembrando que, enquanto Pedro proclamava a fé sobre a herança de Israel, Paulo voltou-se para os gentios. É muito salutar nos dias de hoje essa proposta pela diversidade de caminhos para a busca da fraternidade na fé. O Papa Francisco tem sido muito combatido por uma ala conservadora da Igreja por sua proposta de acolhimento dos diferentes. Chocou alguns quando disse que eram bem-vindos os descasados e teve abordagem cristã e fraterna por todos os que se manifestam sexualmente de forma diversa da convencional.
Hoje nosso país vive momentos de intensa intolerância ideológica, política e religiosa, daí esse momento de tantos conflitos e violências. O segredo de uma boa convivência social passa pelo respeito às nossas diferenças. Nascemos como Nação da união de diversas culturas e povos distintos, embora tenhamos nos distanciado pelo regime que tradicionalmente adotamos de prestigiar o capital em detrimento das artes e do trabalho. Durante várias décadas, a arte e a pobreza foram criminalizadas, a ponto de terem sido objeto de repressão social várias manifestações culturais advindas de nosso lado africano e indígena.
Ainda hoje os pobres e negros vivem alijados de vários direitos reservados aos poucos detentores das riquezas e poderes. Basta escolher o campo das políticas públicas para se identificar que os privilégios são mantidos e é causa de incremento da violência. Atualmente estamos testemunhando mais uma disputa fruto desse tratamento diferente. Enquanto o Rio mais uma vez sedia o Rock in Rio, onde serão recebidos os maiores astros da música do mundo, com o apoio e incremento oficial — como deve ser —, outro evento cultural igualmente importante para a vida da cidade sofre com o corte de verbas públicas, coincidentemente por representar a tradição das comunidades pobres e, do mesmo modo, incrementa a economia.
No campo jurídico não tem sido diferente o tratamento que se dá ao andar de cima, aplicando os preceitos constitucionais que tradicionalmente são negados ao andar de baixo. Permite-se que a polícia invada barracos sem mandados judiciais e negam-se prisões domiciliares às classes operárias que se envolvem com a criminalidade, enquanto para as classes sociais dotadas de poderes políticos e econômicos para financiar bons advogados são garantidos os direitos fundamentais inscritos na constituição do Brasil.
A violência que nos assola é fruto dessa ação preconceituosa com os diferentes que devíamos respeitar e amar da mesma forma. Não há outro caminho senão a garantia de acesso aos mesmos direitos a todos os cidadãos de A a Z, sem qualquer tipo de discriminação. E esse exemplo tem que partir dos que tiveram acesso a uma boa educação e aos pastores que são intérpretes das escrituras e não têm o direito de pregar o ódio quando são portadores da missão de pacificar os homens de boa vontade.