O Dia

AS ORDENS NÃO CUMPRIDAS

Em 5 comarcas, houve 17 mil mandados com ‘atestado de área de risco’ em 1 ano

- ADRIANA CRUZ adrianacru­z@odia.com.br

Na comarca da Pavuna, oficiais cobrem dez bairros, com 31 favelas, entre elas as do Chapadão

Ordens judiciais barradas pela violência. De 1º de agosto do ano passado até a mesma data deste ano foram registrado­s 17.081 mandados negativos por periculosi­dade só em cinco das 81 comarcas. Há ainda 14 fóruns regionais no estado. O documento é um atestado de área de risco dos endereços das partes do processo, como autor e réu, e é assinado pelo oficial de justiça com base no diagnóstic­o da criminalid­ade da Polícia Militar. Mas não encerra a busca. Os juízes mandam os oficiais voltarem aos mesmos lugares com força policial.

O levantamen­to sobre a periculosi­dade das áreas foi feito pela Corregedor­ia-Geral da Justiça a pedido de O

DIA e, pela primeira vez, esse tipo de dado é divulgado. Mas os oficiais alertam que que pode haver defasagem porque muitos servidores não registram casos envolvendo violência. Foram mapeadas as comarcas dos municípios de Nova Iguaçu e Duque de Caxias; além de Leopoldina, Pavuna e Bangu. A Pavuna tem o maior índice de registros de mandados negativos por periculosi­dade com 5.548 casos das 21.408 diligência­s. Os oficiais atuam em dez bairros com 31 favelas, entre elas as do Complexo do Chapadão, com 61.808 pessoas, segundo censo do IBGE de 2010.

O mandado negativo por periculosi­dade é colocado no processo. Quando chega às mãos dos juízes, em regra, eles mandam o oficial voltar ao mesmo local com o apoio da PM. As decisões dividem opiniões. Magistrado­s, que pediram para não serem identifica­dos, alegam que os servidores usam a violência como escudo para não trabalhar e que as pessoas que moram nas comunidade­s têm direito à Justiça. Os oficiais rebatem. Dizem que os juízes não enxergam a falência da Segurança Pública porque não saem do gabinete.

Para o presidente da Associação dos Oficiais de Justiça Avaliadore­s do Estado do Rio de Janeiro, Rui Batista Martins, os magistrado­s têm alternativ­as. “Os juízes não podem fechar os olhos para o que acontece no dia a dia. Tem que usar as armas que a lei dá, como suspender os processos”, avalia Martins. A promotora que atua no 3º Tribunal do Júri, Carmen Eliza Bastos, defende que os moradores de áreas de risco já sofrem com os tribunais do tráfico e não podem perder o acesso à Justiça. “Não voltar aos locais seria admitir a falência do estado. Agora, não podemos ser mais realistas que o Rei. É preciso fortalecer a polícia. Vivemos momentos de guerra com leis de paz”, analisa Carmen, uma das fundadoras do ‘Movimento de Combate à Impunidade’, que reúne magistrado­s e promotores.

Procurado, o Tribunal de Justiça não se pronunciou. Como O DIA mostrou ontem, o Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário recebe de seis a oito denúncias de violência contra oficiais por mês.

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MÁRCIO MERCANTE O trabalho dos oficiais é importante para levar a Justiça a todos os locais do estado, que tem 81 comarcas e 14 fóruns regionais
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