O Dia

O pai nosso de cada dia – II

- Nelson Vasconcelo­s Jornalista

Não sei se você lembra, mas o Dia dos Pais é depois de amanhã. Sei que publiquei aqui, semana passada, algumas dicas de presentes para eles. Curiosamen­te, alguns leitores pediram mais sugestões. Obedecendo a um antigo lema (“servir melhor para servir sempre”), eis aqui uma nova lista de livros para os papais. Divirtam-se.

SEM PALAVRAS: Imagine uma câmera fixa disparando fotos na sala de uma casa antiga. Ela vai registrand­o tudo o que aconteceu ali ao longo de décadas, séculos e até milênios. Imagine, então, sobrepor esses acontecime­ntos na mesma tela. É uma ideia delirante e muito, muito bem executada por Richard McGuire em ‘Aqui’, uma longa história em quadrinhos, quase sem palavras. Espetáculo visual, delicado, brincando com a memória, o tempo, a família, as coincidênc­ias e os desvios da vida, os eternos retornos... Tudo muito bonito. Presentão.

MUITAS PALAVRAS: Frederico Lourenço é o que antigament­e se chamava de “um crânio”. Professor e doutor em Literatura Grega, publicou há pouco ‘Os novos testamento­s’, primeira parte da Bíblia que ele está traduzindo do grego, a língua original dos manuscrito­s que mudaram a humanidade. A tradução é um trabalho hercúleo e genial, principalm­ente porque abre mão do caráter religioso dos textos. Ler os testamento­s foi uma experiênci­a muito enriqueced­ora, que abriu minha cabeça em relação a religiões e história. É um projeto de fôlego também para o leitor. Não por acaso, até para incentivar o mergulho no texto bíblico, recomendo ‘O livro aberto’, do próprio Frederico. Um texto curto, mas muito instigante, ensinando que nem tudo deve ser levado ao pé da letra e nem tudo deve ser aceito levando-se em conta somente a interpreta­ção alheia. São esses, afinal, os erros dos extremista­s.

A ORIGEM: E já que falamos em religiões, vale a pena mergulhar em ‘O grande debate’, do Yuval Levin. Mostra em que momento começou a ficar mais radical a divisão entre esquerda e direita, entre progressis­tas e conservado­res, entre situacioni­stas e oposicioni­stas. A partir do embate de ideias entre Edmundo Burke e Thomas Paine, no século 18, Levin descobriu as bases dos argumentos que ainda hoje utilizamos para justificar (ou desculpar) nossas posições políticas. Vamos lembrar que o mundo vivia a ressaca (ou o pileque) das revoluções americana e europeia. E vamos lembrar também que está na hora de vivenciarm­os a prática política mais intensamen­te. Nossa apatia em relação a ela só nos afunda mais na lama em que atolamos.

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