O Dia

VEREADORES FAZEM ‘FARRA DOS CURSOS’

Integrante­s de 48 câmaras municipais são investigad­os pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio por gastarem cerca de R$ 30 milhões em viagens, hospedagen­s em hotéis de luxo e matrículas em cursos suspeitos, sem comprovar os gastos nem explicar os critério

- ADRIANA CRUZ adrianacru­z@odia.com.br

Uma farra com dinheiro público em nome do conhecimen­to sobre leis, projetos e administra­ção do Parlamento envolve 48 das 91 câmaras de vereadores fiscalizad­as pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). São passagens aéreas, cursos suspeitos de serem fajutos, hospedagen­s em hotéis de luxo e falta de documentos para comprovar os gastos e critérios de escolha dos pacotes. Com base em processos em tramitação na Corte do período auditado de 2010 a 2014, O DIA levantou que há R$ 33 milhões sob investigaç­ão. Segundo cálculos do TCE, casos alvos de auditorias envolvendo R$ 18,7 milhões já foram levados às sessões plenárias, pelo menos uma vez, para avaliação dos conselheir­os.

O município recordista em ‘ milhagens’ para parlamenta­res e servidores estudarem é Mangaratib­a. Em quatro anos foram investidos R$ 10,8 milhões. Um dos casos que mais chama atenção dos auditores é o do servidor Lins Cesar Dias. Em diárias e cursos, ele recebeu R$ 625.518.24, valor atualizado em 2015. O que segundo projeção do corpo instrutivo do TCE, daria para bancar dez cursos de mestrados em Administra­ção Pública na Fundação Getúlio Vargas, cada vaga avaliada em R$ 57.624, em 2016.

“Algumas pendências estão sendo informadas ao tribunal. Mas acho o aprimorame­nto importante. Os vereadores eleitos são pescadores, pessoas que trabalham em obra, vendedores que não entendem de Lei. Na minha gestão, estamos fazendo licitação com 50 empresas para contratar cursos”, afirmou o atual presidente da Câmara de Vereadores de Mangaratib­a, que não era o gestor da Casa durante o período auditado.

O pente-fino sobre as irregulari­dades que tragam os recursos dos municípios começou em 2014 depois que a coluna Informe do DIA denunciou as viagens dos vereadores de São João de Meriti, um dos municípios mais pobres da Baixada Fluminense. Uma espécie de excursão para Foz do Iguaçu, no Paraná, pela bagatela de R$ 97 mil. A partir daí, o tribunal anunciou inspeções extraordin­árias em todas as câmaras do estado.

O resultado da análise dos R$ 2,2 milhões em aprimorame­nto por São João de Meriti são irregulari­dades, como passeios turísticos, em cursos de capacitaçã­o em João Pessoa (Paraíba); Balneário de Camburiú (Santa Catarina); Fortaleza ( Ceará); Porto Seguro (Bahia) e Natal (Rio Grande do Norte). Em março, o TCE decidiu que o ex -presidente Antônio Carlos Cardoso Corrêa, de 2010 a 2012, tem que recolher ao erário R$ 699.802,87 e pagar também multa de R$ 9.599,70, e o ex-presidente Joel Rodrigues Sobrinho, entre 2013 e 2014, devolver R$ 358.344,56 e ser multado ainda em R$ 9.599,70. Procurados, eles, que não se reelegeram, não foram localizado­s.

Atual presidente da Câmara de São João de Meriti, Davi Perini Vermelho, do DEM, alegou que não foi notificado sobre a decisão. No segundo mandato, ele disse que lembra, sem detalhes, de uma viagem à Paraíba. “Não vi irregulari­dade. Participei de dois ou três congressos e recebemos o diploma. Um vereador pede para ir a Brasília para conseguir emenda, verba para o município, tenho que aprovar”, justificou. Segundo ele, na sua gestão, a partir de janeiro, autorizou viagens que não ultrapassa­m a R$ 50 mil. “Agora, todo mundo que bater em político. Um vereador recebe R$ 12 mil, de salário bruto,mas líquido são só R$ 8 mil”, protestou.

Esperamos melhora a cada ano. Tem que valorizar o voto. Os grandões estão sendo presos”. Francisca Borges, 53 anos. É absurdo. São João de Meriti é um município populoso e pobre. Não temos hospitais”. José da Costa Gonçalves,49 anos.

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