O Dia

Ataques a terreiros se espalham pelo Rio

Medo de que traficante­s estejam por trás de violência impede que vítimas denunciem

- Do estagiário Matheus Ambrósio, sob supervisão de Claudio Souza

Não é só na Baixada, onde sete casas de religiões afro foram depredadas nos últimos meses a mando do tráfico, que o problema existe. Além dos casos mostrados ontem pelo DIA, em vários bairros cariocas episódios assim se repetem.

Os atentados às casas de religiões de matriz afro-brasileira­s, revelados na edição de ontem do DIA, vêm crescendo também fora da Baixada Fluminense. O Babalorixá Márcio de Barú, do centro Ilé Axé Obá Inã, na Penha, conta que seu terreiro tem sido alvo de ataques frequentem­ente.

De acordo com o religioso, todas as segundas-feiras, quando inicia a cerimônia chamada gira, grupos de pessoas começam com as agressões. “Jogam pedras portuguesa­s, ovos e legumes no telhado do barração. Tive de colocar até uma lona na parte que é aberta para proteger os frequentad­ores”, lamentou. Ele conta que, em abril, registrou queixa na 22ª Delegacia de Polícia, no bairro.

É justamente o registro em delegacias que as autoridade­s estão pedindo que as vítimas dessas agressões façam. Na Baixada, pelo menos sete casas de religiões afro-brasileira­s foram depredadas nos últimos dois meses, conforme levantamen­to líderes religiosos locais, mas nem todas as vítimas registrara­m ocorrência­s, por medo de represália­s.

O chefe de Polícia da Baixada Fluminense, Sérgio Caldas, disse que isso é necessário para início das investigaç­ões. “É fundamenta­l que essas pessoas se dirijam à delegacia. Podemos colocar toda a investigaç­ão sob sigilo, ou seja, somente o delegado terá acesso aos depoimento­s e dados das pessoas”, contou Caldas.

E não são só depredaçõe­s de terreiros que vêm ocorrendo. Pessoas relatam perseguiçõ­es. A dona de casa Lilian Souza, 43, que tem uma tatuagem em referência a uma entidade da umbanda, disse que teve de retirar seus filhos da escola no meio do ano passado, em Senador Camará, porque sofriam com xingamento­s preconceit­uosos. “Agora na nova escola ele já voltou a sofrer perseguiçã­o. Não sei o que fazer.”

O secretário de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos, Átila Alexandre Nunes, acredita que esses ataques são orquestrad­os e pede que sejam

Jogam pedras portuguesa­s, ovos e legumes no telhado do barracão. Tive de colocar até uma lona na parte aberta para proteção MÁRCIO DE BARÚ, babalorixá

Para ter dado específico, deveria ser criada pela Secretaria de Segurança a subclassif­icação de injúria mediante elemento religioso

SÉRGIO CALDAS, chefe de Polícia da Baixada

Os comportame­ntos reprovávei­s só podem ter repressão penal se estiver escrito na lei. A intolerânc­ia sozinha é sentimento pessoal

ANTONIO PEDRO MELCHIOR, advogado

investigad­os mais profundame­nte. Como O DIA mostrou ontem, traficante­s estariam por trás dos atentados. Segundo Nunes, há denúncias também de que o tráfico estaria se associando a falsas igrejas para lavar dinheiro e, por isso, não querem a presença de outras religiões nas áreas em que atuam.

Para protestar contra as agressões, no próximo dia 17, líderes de diversas religiões irão se reunir para a 10º Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, na orla de Copacabana.

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DIVULGAÇÃO O babalorixá Márcio de Barú denunciou ataque na Penha. O terreiro de candomblé Ilê Asé Togun Jobi, em Nova Iguaçu, foi alvo nesta semana, o sétimo naquele município
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