O Dia

O medo no Rio

- Jandira Feghali Deputada federal pelo PCdoB e vice-líder da minoria na Câmara

Seja nas vielas escuras do alto da Rocinha ou na estrada bem iluminada da Gávea, o medo vive. É presença constante na mente de pais e de filhos, sem prazo para acabar. Não importa onde você more, todos têm medo de não viver ou de não chegar em casa. De não sobreviver ao tiro que ninguém sabe de onde sai, do ‘bonde’ armado até os dentes cruzando uma rua, ou da violência de uma porta sendo arrombada por um mandado de segurança coletivo.

Há de termos indignação, sim, como povo carioca e fluminense. Foram milhares de estudantes sem aula, com impacto direto em comércios fechados e famílias ilhadas em suas casas. Seja por brigas entre facções criminosas ou por conflitos com as forças de segurança, o sofrimento maior é da população, que está no meio disso tudo, acuada. Se nesta guerra a polícia é a que mais mata, diretament­e ela também é a que mais morre. No fim, são pobres morrendo de todos os lados.

A chegada a este ponto humilhante é a política de segurança fracassada dos governos. Derrotados na guerra às dro- gas, com falta de planejamen­to e de uma eficaz política de inteligênc­ia. As UPPs foram limitadas, usadas com velocidade e abrangênci­a pouco pensadas, resultando em graves erros do estado. O caso Amarildo é a face mais explícita.

Nestes dias de tensão e pânico, foi uma carta de um morador da favela, o escritor popular Geovani Martins, de 26 anos, que definiu muito bem isso tudo que vivemos: “Quando vi os tanques de guerra entrando no morro, não pude deixar de pensar (...) naquele projeto de futebol, de surfe, de judô, de teatro, de música, entre tantos outros, interrompi­dos por falta de recursos. Fiquei pensando. Nessas horas, onde é que esteve o governo do Estado do Rio?”.

A situação é complexa, mas precisamos ir além no debate, sem casuísmos que o medo nos traz. Redução da maioridade penal é uma resposta ideológica que agrava a nossa perspectiv­a, ao lançar menores no sistema carcerário falido. E manter o Exército, força de segurança de cobertura transitóri­a, não é solução.

Propostas existem e muitas já colocadas à mesa. O que falta é visão estratégic­a, vontade política e compromiss­o com a vida e o futuro. Interrompe­r a guerra que massacra na viela e no asfalto exige superar o vácuo de poder, superar políticas fracassada­s e vencer o medo.

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