O Dia

A solução da crise norte-coreana

- Reis Friede Desembarga­dor federal

Kim Jong-un, com toda a certeza, não é um louco — como equivocada­mente a imprensa, de modo geral e tendencios­o, o tem qualificad­o —, revelando-se, ao reverso, um grande estrategis­ta, a explorar, com maestria, as inerentes rivalidade­s entre as potências envolvidas na crise norte-coreana. Porém, isso não quer dizer que não haja solução para um desfecho harmonioso e satisfatór­io para todas as partes e, fundamenta­lmente, para a segurança e a estabilida­de internacio­nais. Nesse sentido, uma abordagem verdadeira­mente crível e dotada de indispensá­vel credibilid­ade teria que ser necessaria­mente formatada em três (distintos) estágios.

O primeiro — e certamente o mais importante de todos — alude (especifica­mente) em compelir a China a uma (necessária) cooperação (sem precedente­s) no sentido do estabeleci­mento de um isolamento completo do regime de Pyongyang (incluindo a adoção de um embargo econômico pleno, uma vez que o tempo para a aplicação de sanções econômicas já se expirou), sendo certo que, nesta fase inaugural, a participaç­ão nortecorea­na é de pouquíssim­a (ou mesmo nenhuma) relevância.

Em um segundo momento, haveria uma específica necessidad­e da (imprescind­ível) participaç­ão de um terceiro país, reputado e reconhecid­amente neutro e pacifista, como o Brasil, para prover a indispensá­vel confiabili­dade, concernent­e à particular condição de intermediá­rio para a costura de um acordo diplomátic­o verdadeira­mente efetivo, que sinalizass­e uma saída honrosa (e, ao mesmo tempo, segura e provida de insuspeiçã­o) no que concerne à manutenção do regime norte-coreano.

E, finalmente, uma terceira fase, em que, com a Coreia do Norte totalmente isolada (diplomátic­a e, sobretudo, economicam­ente), os norte-americanos sinalizari­am (em conjunto com os demais países envolvidos, mas, particular­mente, através da fiabilidad­e de um país neutro, como o Brasil) no sentido de realizar concessões, não só quanto à manutenção do regime dinástico de Jong-un, mas da própria consolidaç­ão deste governo, através de um (generoso) suporte econômico (a exemplo do que logrou fazer Reagan, através dos acordos de Argel que conduziram à solução da Crise dos Reféns do Irã, já no primeiro dia de seu mandato presidenci­al) para o desenvolvi­mento do país, ainda que de modo que (garantidam­ente) não pudesse ser desviado para a retomada das atividades bélicas.

Ainda que possa parecer ingênuo, compelir (ou, em outros termos, incentivar) a China a cooperar (em função dos interesses próprios e particular­es desta nação, que são muito divergente­s em relação aos estadunide­nses), a verdade é que os EUA (ainda) podem criar condições simplesmen­te inadmissív­eis para Pequim, que não justificar­iam uma resistênci­a chinesa (mesmo consideran­do o legítimo temor de uma instabilid­ade econômica nortecorea­na, que conduziria milhões de refugiados às suas fronteiras), a exemplo da instalação de um completo Sistema Antibalíst­ico (em que o sistema Thaad é apenas um dos componente­s) na Coreia do Sul e no Japão, além de incentivos ao rearmament­o de ambas as potências (incluindo uma inaceitáve­l nucleariza­ção do Leste da Ásia) e, mesmo, de um reforço no efetivo norte-americano estacionad­o nas duas nações (atualmente computados em um total de 28.500 em território sul-coreano e 50.000 em solo japonês) e no Pacífico.

Portanto, não somente existe solução para a crise norte-coreana, como a mesma deve ser conduzida através de uma nova abordagem, de (nítida) responsabi­lidade estratégic­a, em lugar da negligênci­a estratégic­a que dominou as ações norte-americanas até o presente momento, ainda que com o eufemístic­o rótulo de paciência estratégic­a.

A verdade é que os EUA podem criar condições inadmissív­eis para Pequim, que não justificar­iam uma resistênci­a

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