O Dia

Vidas perdidas

- João Tancredo Advogado

Amensagem que fica após tantos tiros, mortes e incursões das Forças Armadas é que ainda há muito a se aprender em segurança pública no Rio. A guerra às drogas, com repressão e violência, não tem, nem nunca teve, resultados efetivos, ou seja, a teoria está longe da prática. O discurso bonito se torna evasivo com ações sem inteligênc­ia ou planejamen­to e que resultam em derramamen­to de sangue. Vidas perdidas em vão, virando apenas estatístic­as.

São anos de uma política ostensiva e inconseque­nte. Investimen­to de energia e grana que não serve e nunca servirá para nada, pois os fatos comprovam que a situação não melhora, pelo contrário, se agrava a cada ano. E nesta política de equívocos, o maior bem a ser preservado, a vida humana, tem sido sistematic­amente desprezado, conforme podemos constatar nos absurdos números de homicídios, balas perdidas e baixas de todos os lados.

Até o momento já morreram 105 policiais neste ano. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), somente no primeiro semestre, quase 1.900 pessoas morreram vítimas de homicídios, roubos, agressões e em operações policiais. Levantamen­to da ONG Rio de Paz revelou que nos últimos 10 anos 40 menores de 14 anos foram vítimas da violência do próprio estado, sendo 46% dos casos ocorridos entre o ano passado e este ano de 2017.

O caos de hoje passa um recado claro. A política de segurança pública atual é uma imensa e cara máquina de enxugar gelo. E nas últimas décadas quem vem pagando essa “conta” é a população pobre, além dos policiais.

Voltar a ter um cotidiano à altura de uma cidade como a do Rio, internacio­nalmente reconhecid­a pelo seu potencial turístico, depende diretament­e de uma mudança no modo de pensar segurança pública. Hoje, a única certeza que temos é que precisamos de caminhos diferentes para alcançar resultados diferentes.

A guerra às drogas, criminaliz­ando a pobreza e o funk, promovendo o genocídio da população negra e pobre, sem investir na inteligênc­ia policial e em outras áreas sociais, é apenas farsa, visando a holofotes ou a propósitos eleitoreir­os.

É preciso mudar e rápido. Que nossas autoridade­s tenham vontade política, seriedade e responsabi­lidade. No mais, hoje, o que nos resta é nos solidariza­rmos com todos os moradores da Rocinha, Acari e demais comunidade­s cariocas. Torcendo para que mais vidas não sejam perdidas.

A guerra às drogas, criminaliz­ando a pobreza e o funk, promovendo o genocídio da população negra e pobre, é farsa

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