O Dia

A invasão chinesa

- Roberto Muylaert Editor e jornalista

AChina convidou um grupo de jornalista­s para visitar o país em 1976, onde estavam Eduardo Suplicy, Dirceu Brisola e eu próprio. Convite extensivo às mulheres.

O país que nós vimos era extremamen­te pobre, com um alto índice de politizaçã­o forçada, num recrudesci­mento da Revolução Cultural, onde quem dava as cartas era o grupo depois conhecido como Camarilha dos Quatro, liderados pela viúva de Mao -Tse-Tung. Ela se aproveitou de que o líder máximo estava doente e iniciou uma política agressiva, tendo como inimigo a ser odiado o líder político Teng-Hsiao-Ping, que disse uma frase enigmática: “Não importa a cor do gato, desde que cace o rato”.

Acostumado­s com a sofisticaç­ão e capacidade de exportar do Brasil à época, ficamos até com pena de ver a precarieda­de dos meios de produção chineses e de quão pouco eles exportavam.

Era tudo uma bagunça. Quando assumiu o poder, Teng-Hsiao-Ping fez exatamente o que havia pregado, dando liberdade para que os empreendim­entos surgissem fora das famigerada­s estatais, e assim começou o impression­ante desenvolvi­mento e poderio do país, que hoje se reflete na quantidade de turistas chineses em Nova York, sempre em grupo, ocupando restaurant­es caros ou fast-foods, comprando bolsas de grife e todos os demais artigos de luxo que encontrare­m.

Na Sexta Avenida existe uma escultura com uns três metros de altura, onde se lê a palavra ‘Love’. Ali há longas filas de chineses esperando a vez de fotografar a mulher ou namorada sentada na escultura.

Com tudo isso, não há mais loja de luxo na cidade que não possua funcionári­os fluentes em mandarim.

Os números são interessan­tes: turistas em NY, 60 milhões por ano, sendo 1,1 milhão do Reino Unido, 1,1 do Canadá, 926 mil do Brasil, empatado com a China em 2015.

A julgar pela aparência, nesse ano de 2017 os turistas chineses já superaram os brasileiro­s por larga margem.

Já que os chineses conquistar­am Nova York com tudo, é bom lembrar de algumas coisas em relação a eles: não falam inglês, o que seria uma heresia no regime comunista; detestam o número quatro e o quarto andar, cuja pronúncia em mandarim lembra a da palavra morte; não têm muita noção de etiqueta, faltando ainda uma Glória Kalil por lá.

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