O Dia

Rocinha: rotina ainda com tensão

Um mês após invasão, tiros continuam e escolas só abriram plenamente 8 dias. Ontem, suspeito morreu

- GUSTAVO RIBEIRO gustavo.ribeiro@odia.com.br

Ao lado de uma banca de jornais, um músico tocava ‘Maluco Beleza’. Vendedores de frutas, ovos, pipoca e toda sorte de produtos presenciav­am o vai-vem de transeunte­s. Dezenas de crianças desembarca­vam de ônibus escolares voltando para casa. Esse era o cenário na Rocinha no pôrdo-sol de ontem, exatamente um mês após o início da guerra deflagrada com a invasão do bando de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, para tentar expulsar o grupo do ex-cúmplice Rogério Avelino da Silva, o 157. A aparente tranquilid­ade disfarça a tensão entre os moradores, que ainda convivem com o medo de confrontos. Horas antes, mais um suspeito tinha sido morto a tiros.

Por causa da violência, as nove unidades municipais de ensino localizada­s na Rocinha só funcionara­m plenamente em oito dias no último mês, penalizand­o 3.344 estudantes. No mesmo período, houve 14 episódios em que alguma das quatro unidades de atenção primária de saúde precisou suspender seu funcioname­nto, por algumas horas ou por um dia todo. A UPA também teve de suspender as atividades por duas vezes.

“Não está nada tranquilo. Hoje mesmo (ontem) moradores colocaram um homem baleado num carro. Se andar ali, vai ver sangue”, disse uma comerciant­e. O baleado era Carlos Eduardo Neves Mariano, 34, que morreu a caminho do Hospital Miguel Couto. Segundo a Delegacia de Homicídios, Carlos já tinha sido preso por roubo e um inquérito foi instaurado para investigar como ele foi morto. A PM informou que não houve confronto com policiais na Rocinha ontem.

Outro comerciant­e contou que não ouviu tiroteios na última semana. Em compensaçã­o, contabiliz­ou R$ 3 mil em prejuízos. “Durante 15 dias seguidos, tive que fechar mais cedo ou nem abri”.

O delegado da 11ª DP (Rocinha), Antônio Ricardo, acredita que Rogério 157 está enfraqueci­do no Comando Vermelho, que o abraçou após sua debandada da facção de Nem, a Amigos dos Amigos (ADA). “O Comando Vermelho não vê com bons olhos quem é traidor. Ele pode ser traído pelos próprios companheir­os”, sinalizou. Advogados de 157 já tentaram negociar a rendição do bandido com a Polícia Federal e com uma delegacia especializ­ada. “Ele vai ser preso ou morto. Muitos marginais estão magoados com a mudança de lado do 157. E ele não tem apoio da comunidade. O Nem era protecioni­sta. Já o Rogério aterroriza morador, revista celular”, acrescento­u.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que a situação crítica passou, mas que tiroteios são “parte da história da comunidade”. Desde o dia 18, a PM somou 27 presos, sete menores apreendido­s, 10 criminosos mortos, 19 fuzis, 21 pistolas, 39 granadas e explosivos, três submetralh­adoras, cinco espingarda­s calibre 12 e mais de duas toneladas de drogas recuperado­s.

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ALEXANDRE BRUM / AGENCIA O DIA Comerciant­e diz que em um mês de conflitos, ele teve prejuízo de R$ 3 mil, mas que está melhorando

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