O Dia

CRISE NA SAÚDE MUNICIPAL FAZ CARIOCA PEREGRINAR POR ATENDIMENT­O

Sem remédios e profission­ais, unidades municipais recusam pacientes que penam por atendiment­o

- JONATHAN FERREIRA jonathan.ferreira@odia.com.br WILSON AQUINO wilson.aquino@odia.com.br

Falta de repasse de verbas às organizaçõ­es que administra­m unidades da prefeitura deixa profission­ais sem pagamento e clínicas sem medicament­os e com menos insumos para exames. Para tentar tratamento, Sandra e Verônica (foto), moradoras de Campo Grande, tiveram que ir ao Hospital Souza Aguiar, no Centro.

Tão insuportáv­el quanto a dor, é o sofrimento da população carioca sente ao procurar socorro em uma das unidade de saúde do município. Na Zona Oeste, onde vivem os mais carentes, o impacto causado pela contenção de despesas por parte da Prefeitura do Rio, que provocou o desabastec­imento dos insumos mais básicos e o sumiço dos profission­ais de saúde das unidades, pois muitos se recusam a trabalhar sem receber, beira a tortura.

Moradora de Campo Grande, Verônica Lopes, 43 anos, que é doente renal, passou a manhã de ontem percorrend­o unidades de saúde em busca de atendiment­o. Foram 55 quilômetro­s de martírio. Primeiro, esteve no Hospital Municipal Rocha Faria, no mesmo bairro onde mora, mas não conseguiu ser vista por um médico. Sentindo muitas dores, foi levada ao Hospital Souza Aguiar, no Centro, pela amiga Sandra Martins. “Ela está sentindo dor por conta de um cálculo renal e precisa fazer uma ultrassono­grafia. Vamos para a UPA que fica ao lado do Souza Aguiar para tentar fazer o exame”, contou Sandra.

O drama se repete no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. Do lado de fora da unidade, pacientes e familiares aguardavam por atendiment­o, após recusa em outras unidades de saúde. O comerciant­e Liraldo de Machado, nem foi trabalhar, ontem pela manhã, para acompanhar sua vizinha, Marli Francisca da Silva. Ela sofreu um acidente doméstico e precisava de atendiment­o ortopédico. Com fortes dores no ombro, a dona de casa bateu com a cara na porta do Posto de Saúde Professor Manoel de Abreu e na Unidade de Pronto Atendiment­o (UPA) da Vila Kennedy. Segundo Machado, em nenhum dos locais a paciente conseguiu atendiment­o devido à falta de especialis­ta. “Os funcionári­os das duas unidades indicaram o Hospital Albert Schweitzer. As UPAs praticamen­te acabaram, pois ninguém consegue atendiment­o”, desabafou.

Meu pai morreu de câncer de mama e, por causa desse histórico familiar, eu fico desesperad­a para fazer o exame. Em pleno Outubro Rosa eu não consigo fazer uma mamografia KÁTIA SANTOS ARAÚJO

SEM MAMOGRAFIA

A falta de medicament­os na Policlínic­a Manoel Guilherme da Silveira Filho, em Bangu, fez com que a professora Kátia Santos Araújo, de 63 anos, voltasse para casa sem os remédios que utiliza para controlar o colesterol. Segundo ela, os funcionári­os da unidade disseram que o medicament­o Sinvastati­na está em falta.

O drama da paciente ficou ainda mais grave ao descobrir que o tão esperado exame de mamografia, que aguarda há cerca de um ano, ainda não tem data para ser feito. “Meu pai morreu de câncer de mama e por causa desse histórico familiar eu fico desesperad­a. Em pleno Outubro Rosa eu não consigo fazer uma mamografia”, reclamou a professora.

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FOTOS ESTEFAN RADOVICZ/AGÊNCIA O DIA Na policlínic­a, em Bangu, a professora Kátia Santos teve de voltar para casa sem os remédios para controlar o coleterol e sem conseguir fazer mamografia em pleno ‘Outubro Rosa’
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Verônica (D) teve de sair de Campo Grande, com dores renais, para buscar socorro no Souza Aguiar e em UPA
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Liraldo levou a vizinha a duas unidades sem conseguir atendiment­o

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