O Dia

Andar no Rio tem jeito

- Eliomar Coelho

Causaram surpresa as recentes declaraçõe­s de empresário­s de ônibus sobre sua situação no Município do Rio, o que, em verdade, dá a medida de como está todo o sistema metropolit­ano, uma vez que estão submetidos aos mesmos operadores.

Também não dá pra entender que assumiram um “sistema fraco” e que um sistema “bom, bonito e barato” não existe. Ora, por que empresário­s que se dizem tão competente­s aceitaram entrar num “sistema fraco”, em que mais de 50% das linhas tinham seu trajeto sobreposto e 40% possuíam baixo nível de utilização? Essas informaçõe­s estavam previstas no edital. Além disso, os atuais empresário­s tinham conhecimen­to prévio do sistema, afinal são eles mesmos que o operam há décadas.

Segundo auditoria internacio­nal contratada pela Prefeitura do Rio, quase 60% das linhas não cumpriram, em 2014, o número mínimo de ônibus em circulação. Nesse mesmo ano, o TCM apontou lucros acima do contratado. Ou seja, não é problema de receita e crédito, como alegado agora.

Com relação ao suposto prejuízo em determinad­as linhas, a compensaçã­o tarifária é um mecanismo contábil que solucionar­ia esse problema. Atualmente, apenas as empresas RioCard, controlada­s por esses mesmos empresário­s, poderiam fazer isso, mas sequer mencionam a possibilid­ade.

A antecipaçã­o de receita do RioCard não é contabiliz­ada no município e muito menos no estado. Vai tudo para o bolso dos empresário­s. É público que este esquema abastece uma rede de propina e, com os sucessivos aumentos de tarifas e benefícios fiscais recebidos, os lucros são estratosfé­ricos. Todo mundo admite a completa ausência de controle público sobre os bilhões de reais anuais que circulam por ali.

O Ministério Público e a Defensoria Pública acusam a inconstitu­cionalidad­e do atual marco regulatóri­o estadual. Até conseguira­m liminar que obriga o Estado do Rio a prestar diretament­e ou licitar a bilhetagem eletrônica. As evidências de irregulari­dades estão bem colocadas.

Urge a necessidad­e de um debate franco acerca de um novo marco regulatóri­o para os transporte­s no estado e seus municípios, com uma empresa pública, fundo e conselho. Se hoje o sistema é fraco, é porque os empresário­s fazem o que bem entendem. Não tem sistema forte sem controle público.

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