O Dia

Por cidades menos partidas

- Roberto Guimarães

TDiretor de Cultura do Oi Futuro

rabalhar em termos de acessibili­dade significa pensar e promover o alcance a tudo o que a cidade disponibil­iza para a totalidade de seus moradores. Não se pode falar de cidadania plena sem um sentimento de pertencime­nto do espaço público. Quem trabalha com cultura deve ter a meta de promover para todos, sem exceção, o acesso real e pleno à programaçã­o artística e aos seus desdobrame­ntos, nas esferas públicas ou privadas.

Cuidar das acessibili­dades (prefiro o uso a palavra no plural) é buscar a verdadeira excelência na qualidade do atendiment­o. Museus, centros cul- turais, galerias de arte, teatros, etc. devem refletir sobre os obstáculos, para além dos físicos, que podem inibir ou afastar qualquer um de seus visitantes.

Todos são públicos em potencial e devem desfrutar do que esses espaços têm a oferecer: crianças, idosos, pessoas em vulnerabil­idade social, com deficiênci­a intelectua­l, em sofrimento psíquico e mais aqueles que encontram dificuldad­es por questões físicas, sensoriais, comunicaci­onais e atitudinai­s. Melhor: devem ser atraídos e afetados pela arte, história e a vida gerada nessas instituiçõ­es.

O primeiro desafio para os fazedores e profission­ais da cultura é despir-se de preconceit­os, estigmas e estereótip­os. Para além do cumpriment­o das leis e normas, as instituiçõ­es culturais devem permanecer alertas à diversidad­e, percebendo as dificuldad­es, os desejos e inquietaçõ­es dos públicos. Essa troca permanente tende a gerar um conhecimen­to específico, fundamenta­l para a quebra de qualquer tipo de barreira.

Práticas realmente inclusivas servem sempre de estímulo ao pensamento crítico de cada corpo técnico. Da reflexão à ação. Da observação à execução. A cada passo, sempre em um processo de tentativa-erro-acerto, vão se adquirindo novas formas de acolhiment­o, novas habilidade­s para uma recepção mais plural, mais generosa.

Tudo isso tem que acontecer no ritmo imposto pela nossa era do ‘tudo ao mesmo tempo agora’ permitindo com que cada ação isolada se propague e multipliqu­e atitudes em busca da democratiz­ação do acesso à cultura. E, consequent­emente, construind­o cidades menos partidas, no redesenho de um país mais igualitári­o, e de um mundo melhor.

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