Independência sem autonomia
Catalunha enfim ‘se separa’da Espanha, que retalia dissolvendo o governo regional e convocando eleições
Madri e Barcelona em rota de colisão. Minutos depois de o Parlamento da Catalunha enfim declarar independência — decisão rechaçada pela comunidade internacional —, o governo central de Madri reagiu com a destituição do presidente regional, Carles Puigdemont, e de seu Executivo, e com a dissolução do Parlamento, convocando eleições para 21 de dezembro.
As primeiras medidas pelo governo para “recuperar a normalidade legal” na Catalunha foram tomadas depois que o Senado autorizou a aplicação do Artigo 155 da Constituição, que dá poderes extraordinários para preservar a unidade do país. A medida passou com 214 votos a favor, 47 contra e uma abstenção.
A escalada dos ânimos foi o auge de longa e esgotadora queda de braço de vários anos entre Madri e Barcelona. Essa radicalização provocou uma profunda divisão na sociedade catalã. O cisma apareceu claramente no próprio Parlamento Catalão, onde a maioria
É urgente devolver a voz aos catalães, a todos, para que possam decidir o seu futuro e ninguém possa cometer ilegalidades em seu nome MARIANO RAJOY, premiê
nacionalista aprovou a declaração solene com a ausência da oposição, quase metade dos deputados, que deixaram seus assentos em protesto contra uma votação anticonstitucional. “Constituímos a República Catalã, como Estado independente e soberano, de direito, democrático e social”, proclamou a resolução aprovada pelos nacionalistas.
PUIGDEMONT PODE SER PRESO
Em contrapartida à decisão do Parlamento Catalão, a Procuradoria-Geral anunciou queixa-crime contra Puigdemont por rebelião, crime pelo qual pode ser condenado a até 30 anos de prisão. As autoridades madrilenhas também se movimentavam para bloquear o acesso ao dinheiro dos impostos pelos catalães.
Contudo, a aplicação do Artigo 155 não está isenta de dificuldades porque implica gerenciar mais de 200 mil funcionários regionais e municipais da Catalunha. Os independentistas catalães baseiam sua força nas mobilizações e nas centenas de ajuntamentos que deram seu apoio à aventura secessionista. Duzentos prefeitos estavam presentes no plenário do Parlamento, que prometeram obedecer apenas à nova ‘República Catalã’.
A decisão tomada pelo Parlamento Catalão não conta com nenhum reconhecimento internacional. A União Europeia manifestou seu apoio ao governo de Mariano Rajoy. Alemanha, França, Reino Uni- do, Itália e Portugal fizeram coro. Os Estados Unidos consideram a Catalunha “parte integral da Espanha” e aprovam as medidas de Rajoy, declarou o Departamento de Estado.