O Dia

Arrecadaçã­o na crise

- Pedro Gonçalves Diniz Filho

Até o fim do ano, e também durante os próximos, o comportame­nto das receitas tributária­s será um importante fator para enfrentar o grave desequilíb­rio fiscal estrutural do Estado do Rio. Como admitido pelo próprio governo, tal desequilíb­rio tem uma das suas principais raízes na projeção futura de receitas com base em expectativ­as superavali­adas (parcialmen­te frustradas pelos descaminho­s que ocorreram na Petrobras e suas empresas satélites).

O quadro negativo, acentuado pela redução da atividade econômica, se insere em um desajuste geral das unidades federadas, causado pela erosão continuada na principal base tributária — o ICMS. A queda de receita pode ser explicada por vários aspectos, como a disputa por novos investimen­tos com cada vez maiores renúncias fiscais, a utilização de novas formas de comerciali­zação e o aumento do peso dos bens imateriais (serviços) no consumo das pessoas.

Se as finanças do Estado do Rio estão entre as mais debilitada­s, não há como negar também que parte do problema se justifica pela postura de ‘preguiça tributária’, em razão dos pagamentos de royalties e participaç­ões devidos pela exploração do petróleo. Por que pressionar os contribuin­tes, se existiam receitas certas e crescentes?

Para enfrentar crises fiscais, não é suficiente fazer mais do mesmo (aumentando alíquotas, por exemplo). É preciso fazer cada vez mais do novo: rever a estrutura para ajustar a fiscalizaç­ão especializ­ada; dar atenção ao ‘e-commerce’; reavaliar o impacto de cada um dos benefícios fiscais concedidos; estabelece­r novos modelos de autonomia e avaliação de metas, promovendo melhor produtivid­ade da atuação fiscal; e, especialme­nte, garantir recursos suficiente­s para atuação da Receita, como já prevê a Constituiç­ão.

A discussão sobre o IPVA serve de exemplo. Por que, ao invés de utilizar um recurso extrafisca­l, vinculando o pagamento à vistoria, não se implanta a cobrança extrajudic­ial, que já é um sucesso em outros estados, com um grau de recuperaçã­o de créditos mais de cinco vezes maior do que o da cobrança judicial?

O sindicato e todos os segmentos da categoria dos Auditores Fiscais têm muito a colaborar com a Administra­ção. O resgate da capacidade tributária é fator imprescind­ível para reverter o quadro atual, fazendo com que os três poderes do governo estadual possam voltar a prestar adequadame­nte os serviços que a população tanto precisa.

Para enfrentar crises fiscais, não é suficiente fazer mais do mesmo. É fazer mais do novo

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Auditor fiscal da Receita Estadual e professor

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