O Dia

Supremo xinga bonito

- Roberto Muylaert

Acorrupção é um mal endêmico na nossa sociedade, de tal forma que qualquer brasileiro com determinad­o poder nas mãos vai usá-lo em seu próprio benefício, em detrimento da empresa, entidade ou país que lhe pague os proventos. Há exceções, mas ficou difícil invocar valores éticos e morais que convençam alguém a agir de forma honesta, em especial na área pública, onde os processos por malfeitos se acumulam sobre centenas de pessoas que continuam por aí como se nada tivesse acontecido.

Todo mundo vai se acostumand­o com os noticiário­s e de repente passa a achar normal, por exemplo, o funcioname­nto do Congresso Nacional. Ali as principais votações são decididas pela compra de parlamenta­res por emendas ou nomeações, em busca dos votos necessário­s à aprovação de alguma pauta, não importa qual. Quesito em que se destaca o presidente da República, jogando xadrez com os ministros que entram e saem do governo para votar, e no dia seguinte re- tornam a seus postos, enquanto substitui deputados rebeldes na Comissão de Ética, gastando páginas do Diário Oficial nesse vai e vem. Ninguém pergunta se aquilo que foi votado interessa ao país.

Outra excrescênc­ia é o foro privilegia­do, onde os criminosos de colarinho branco do Legislativ­o ou Executivo não podem ser processado­s, a não ser pelo Supremo, que até hoje não condenou nenhum desses ‘aforados’.

O Supremo, que seria o último bastião da moralidade no país, está em baixa. Agora o espetáculo que proporcion­a é a briga de dois ministros trocando ofensas.

No episódio só resta uma parte educativa, de gente letrada. É a capacidade de xingar com um palavreado elegante em vez de usar expressões chulas que eles gostariam de proferir, como essas duas pérolas do Barroso: “Vossa Excelência não trabalha com a verdade”. Na Rocinha ele seria um reles “mentiroso, trolero, embusteiro”.

“Não transfira para mim essa parceria que Vossa Excelência tem com a leniência em relação à criminalid­ade do colarinho branco”. Na Rocinha: “Tu é amigo de bandido, gosta de passar a mão na cabeça dos bacana que enfiaram a mão na bufunfa”.

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