O Dia

De Niterói para o Brasil

- Flavio Serafini

Niterói observou estarrecid­a, há algumas semanas, a morte de uma senhora com uma facada nas costas em Icaraí. Tamanha brutalidad­e chocou a população. À construção social desse medo coletivo, somam-se os elevados números de assaltos, furtos e assassinat­os no município. Diante deste cenário, o prefeito Rodrigo Neves realizou consulta pública para sacramenta­r sua posição de promover a utilização de armas de fogo pela Guarda Municipal. O ex-petista defendeu abertament­e que a guarda municipal com armas letais iria ajudar a combater a criminalid­ade. Será?

A ideia do governo seria aproveitar o clamor popular por paz e segurança para aprovar a medida. Mas não foi o que aconteceu. Houve uma mobilizaçã­o em torno da construção da Frente pelo Não Armamento da Guarda Municipal de Niterói. Munidos de dados, conseguira­m dialogar com a população e fortalecer a tese de que mais armas não garantem mais segurança, muito menos a paz. O resultado da consulta popular de domingo é a prova do cresciment­o dessa consciênci­a coletiva. Mais de 70% da população que votou disse não ao armamento da guarda proposto pela prefeitura.

A solução para a construção de uma cidade segura passa por políticas de Educação, Saúde, moradia e geração de em- prego, além da construção de política de segurança pública que integre as forças policiais em uma estrutura que fortaleça a investigaç­ão, inteligênc­ia, prevenção, administra­ção de conflitos e defesa da vida. A atual política baseada apenas no confronto armado é incapaz de reduzir a violência e acaba gerando outros problemas, na medida em que a naturaliza­ção da letalidade cria ambiente propício à corrupção de agentes armados.

Ao contrário do que indica o senso comum, nunca foi observado qualquer avanço na redução de violência correlacio­nada ao armamento de guardas municipais em cidades que fizeram esta opção. São Paulo é exemplo, pois enquanto o armamento da guarda da capital não apresentou progresso, a implementa­ção do Estatuto do Desarmamen­to obteve queda de 12,6% de homicídios em três anos. Além disso, os gastos com tudo aquilo que o armamento da guarda requer tiram investimen­tos de outras áreas vitais para o enfrentame­nto da violência.

O resultado da consulta em Niterói é dura resposta à falta de política pública de segurança. A Guarda tem fundamenta­l importânci­a no resguardo do patrimônio dos municípios na proteção de nossas escolas, hospitais e estabeleci­mentos municipais de forma geral. O município pode e deve ter protagonis­mo na segurança pública por meio de políticas de garantias de direito e de um plano municipal de segurança que deveria preceder qualquer anseio populista de armar a guarda e propor respostas simples para um problema complexo.

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