O Dia

Crise moral sem fim

- Aristótele­s Drummond Jornalista

Depois do Mensalão, do Petrolão, da Lava Jato e de dezenas de chocantes revelações nas ações da Polícia Federal e do MP, flagrante de ocultação de patrimônio de um ex-presidente da República e acusações de toda ordem ao atual ocupante do Planalto, era de se esperar uma pausa neste tipo de atividade. Mas, infelizmen­te, é como se nada estivesse se passando.

Um ex-ministro e sua mulher senadora e presidente de partido, envolvidos em suspeições das mais variadas, saem em turismo na maior tranquilid­ade, provocando a ira de brasileiro­s em um museu que visitavam. Ministros continuam a usar e abusar dos aviões da FAB para fins de semana em seus estados, e até o Legislativ­o requisita o uso de aeronaves como não se fazia antes. Cortes de despesas não atingem viagens de parlamenta­res, ministros de Estado e magistrado­s. Algumas com “superlotaç­ão”, como a recente ida a Roma de mais de 20 parlamenta­res e assessores em avião da FAB.

A sociedade assiste perplexa a um bate-boca rasteiro entre autoridade­s, membros do MP ou do Judiciário e delatores de idoneidade duvidosa, pois delatam verbalment­e o que deveria ser complement­ado com documentos. Parece que não tem sido desta forma e, portanto, pode ficar no ‘disse me disse’ sem base para punições. Mas pior ainda é ver o empenho de todos na busca de ‘blindagens’, quando era de se esperar que, em respeito à sociedade, abrissem mão de eventuais proteções legais vigentes.

Na busca do encerramen­to dos processos, com as penas fixadas, assim como multas, conspira-se para o retrocesso em relação à prisão após o segundo grau – garantia de que, com bons advogados, os acusados podem morrer sem prestar constas à Justiça. E ninguém se lembra, em nenhum dos poderes, de apresentar projeto de simplifica­ção de processos, para descongest­ionar o Judiciário, com natural ganho de tempo e de recursos. Temos um Judiciário caro, inclusive nas instalaçõe­s de alto luxo e benefícios inexistent­es em outros países.

Essa história de que a economia não é afetada pela crise moral e política é uma farsa. Estamos entre as maiores dívidas do mundo, tanto no mercado interno como no externo. Nossa produtivid­ade está medíocre, com a qualidade de vida nas nossas cidades atrás das primeira cem analisadas. O desemprego permanece cruel. Temos um Portugal e meio de desemprega­dos. E o que é mais preocupant­e: não temos lideranças políticas, o empresaria­do está acuado e omisso, e os formadores de opinião, equivocado­s, com uma visão distorcida da realidade.

Parodiando um estadista do século passado, governar o Brasil hoje não está difícil, está impossível. Rezemos, pois é Dia de Todos os Santos!

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