Adrenalina tour
Oturismo exótico ocorre no mundo todo. Aqui estrangeiros gostam de observar como nossa gente consegue viver em locais improváveis e habitações precárias, em um território não controlado pelo Estado. Fazem isso há anos. Só agora, após o trágico episódio da morte da turista espanhola, parte dos envolvidos reivindica a regulamentação das visitas guiadas às favelas, enquanto outros afirmam que elas não são permitidas.
É preocupante quando a miséria e a exposição da pobreza e do pobre viram fonte de renda. Torna-se mais difícil acabar com essa realidade quando, para alguns, elas se tornam a ‘galinha dos ovos de ouro’. Vive-se da favela e não na favela. Neste momento de crise econômica, não se pode negar a existência de um nicho que pode ser explorado. Mas quem se beneficia? O empresário ilegal que leva o turista europeu para visitar a favela miserável ou o morador pobre da comunidade? Ao que parece, a maior parte do lucro da atividade fica com o empresário da operadora de turismo. Pouco sobra para o guia, o artesão local ou o dono do restaurante da comunidade. Sou favorável à organização do segmento e à permissão das visitas em favelas não violentas, onde o Estado pode garantir a segurança dos turistas. Porém, com um outro olhar, voltado para a cultura popular e a história do surgimento de cada comunidade, não apenas como uma visita rápida para confirmar a resiliência de um povo capaz de sobreviver em situações degradantes.
No episódio da espanhola morta, todos tiveram a sua parcela de culpa, a começar pela própria, passando pela empresa de turismo, o motorista e os policiais militares. E os erros cometidos não serviram sequer de aprendizado. No dia seguinte, Madonna e Michelle Alves, badalada top model internacional, estiveram em favelas — mesmo horas depois de intenso tiroteio. Afinal, fazem parte do pacote oferecido pelas empresas de turismo a adrenalina do ilegal, do informal e do risco da exposição ao perigo conhecido por todos, até pelos turistas!