O Dia

'A estagnação e o rótulo dependem da postura’

Mouhamed Harfouch conta que é cumpriment­ado por professore­s pelo papel, que valoriza a profissão

- GABRIEL SOBREIRA gabriel.sobreira@odia.com.br

Em ‘Malhação’, o professor Bóris (Mouhamed Harfouch) foi acusado injustamen­te de assédio e viu sua vida virar de cabeça para baixo. “O assédio é um assunto delicado e sério. Uma acusação injusta é igualmente preocupant­e”, observa o ator.

A TRAMA

Na história de Cao Hamburger, Bóris (Mouhamed) é vítima de uma injustiça, sob o pretexto de ter assediado uma aluna, filha do diretor e melhor amigo dele, Edgar (Marcello Anthony). O orientador tem sua demissão arbitraria­mente decidida sem chance de defesa. Apesar do momento delicado, toda a trajetória do personagem é comemorada. “Sou parado demais por professore­s. Não esperava essa repercussã­o toda. Não se deve a mim, se deve sobretudo ao texto, direção e elenco. Empresto minha paixão pela relação entre mestre e aluno como aquilo que eu gostaria que meus filhos tivessem com o educador”, vibra.

Certa vez, o ator estava em uma padaria com a mulher, e um homem se aproximou e disse que queria falar com ele. “Pensei que tinha fechado o carro dele”, lembra. Mas o indivíduo era um professor de educação física, fã da história de seu personagem, e queria “dar um abraço por valorizar o professor dessa maneira”. O abraço foi dado. “Fiquei tão sem ação”, recorda, emocionado.

INJUSTIÇA

Ainda na trama, Edgar se arrepende e pede para o amigo, Bóris, reconsider­ar e voltar a trabalhar no colégio. Mas o empresário não está arrependid­o, mas pensando apenas no lucro e nos alunos que estão indo embora. “O Bóris poderia voltar se ele entendesse que o Edgar teve um ensinament­o. O tempo é o grande reparador, mas no momento tão próximo, é difícil voltar para o lugar onde foi exposto, acusado de assédio na frente de pais e alunos. É muito grave o que aconteceu. É maior do que orgulho, você não pode fazer isso com uma pessoa e achar que, no simples fato de se arrepender, vai estar tudo igual”, defende.

BELEZA

Sempre muito certinho e quase previsível, o personagem ainda despertou novas paixões no público ao aparecer de regata justa jogando futebol com alguns alunos. As redes sociais do ator se encheram de elogios à forma física de Mouhamed - conquistad­a principalm­ente com futevôlei. “Não posso reclamar. Não me acho feio. Mas não sou um Cauã Reymond”, diverte-se o ator de 40 anos. Casado com a advogada Clarissa Eyer - eles estão juntos há nove anos -, o intérprete conta que a mulher leva numa boa as cantadas dos fãs. “Ela se diverte horrores”, garante. Harfouch diz que ser elo- giado é muito bacana. “Não tenho a menor pretensão de fugir de rótulo. Seja de galã, operário, torto... A beleza está na boa história que se pode contar e onde chegar. Faço galã, fera, bicho”, frisa.

RÓTULOS

Com mais de 20 anos de carreira

Não posso reclamar. Não me acho feio. Mas não sou um Cauã Reymond” MOUHAMED HARFOUCH, ator

no teatro, Harfouch reforça que, quando estreou na TV, na novela ‘Pé na Jaca’, de Carlos Lombardi, não ficou com receio de ficar taxado por personagen­s descamisad­os. “Não adianta fugir do que os personagen­s são, tem que se jogar neles, não lutar contra. Mas, sim, buscar oferecer dentro deles outras belezas. A gente tem mania de querer controlar tudo. Se eu vou ficar marcado por isso ou não, no primeiro momento marcar é preciso. Entrar em uma prateleira. A estagnação e o rótulo dependem da postura da sua vida de buscar outros textos, fazer teatro, cinema, TV. E o que você vai poder construir para ampliar seu horizonte”, diz.

PROFESSOR

Mouhamed já foi convidado para dar aula de teatro. Mas recusou. A razão principal é que ele acredita que a função de um professor é tão importante e fundamenta­l que pode abrir ou fechar portas na vida de um aluno. “O educador é um agente tão transforma­dor na vida do aluno. Não me senti preparado para isso. Embora eu adore trocar experiênci­a com os mais novos”, pondera.

PAI

Pai de dois filhos - Ana Flor, de 5 anos, e Bento, de 7 meses -, Mouhamed diz que não há nada melhor do que estar com os herdeiros. “Meus filhos melhoraram a minha qualidade de ser humano”, derrete-se. Nos cuidados com o caçula, o ator acorda de madrugada e se reveza com a companheir­a. “Às vezes, durmo três horas por noite, vou gravar, pegar filha no colégio”, acrescenta.

Em comum acordo, o casal decidiu não ter babá. “Não é fácil. Quando era com um, achava que dava. Tem dia que acho que estou em prova de resistênci­a do ‘BBB’. Só que não tem cabine para sair”, brinca ele, que confessa ser um pai coruja. “Sou um pai que tenta acertar e que erra também. Me considero participat­ivo. A educação não é ditar regras ou dizer certo ou errado, mas participar. Acho que minha profissão me possibilit­a ser um pai bacana”, salienta, com orgulho.

 ?? FOTOS RODRIGO LOPES/DIVULGAÇÃO ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO MULHER MARÍLIA CABRAL/TV GLOBO ?? Acima com Lúcio Mauro Filho, de ‘Malhação’. No alto, à dir., com os filhos
Bento e Ana Flor À esq., Harfouch e Marcello Anthony
FOTOS RODRIGO LOPES/DIVULGAÇÃO ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO MULHER MARÍLIA CABRAL/TV GLOBO Acima com Lúcio Mauro Filho, de ‘Malhação’. No alto, à dir., com os filhos Bento e Ana Flor À esq., Harfouch e Marcello Anthony
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil