O Dia

Uma história de Monsueto

- Luís Pimentel Jornalista e escritor

Alma do samba e do espírito carioca, o homenagead­o desta crônica é o cantor, compositor, instrument­ista e figuraça de primeira Monsueto Campos de Menezes (19241973), que faria aniversári­o amanhã. Contam que o autor dos clássicos ‘Mora na filosofia’ (“Eu vou lhe dar a decisão:/Botei na balança, você não pesou/Botei na peneira, você não passou”) e ‘ A fonte secou’ (“Eu não sou água, para me tratares assim/Só na hora da sede é que procuras por mim”) foi procurar o humorista, comediante e escritor Chico Anysio, que sempre teve fama de não medir esforços para ajudar os amigos em dificuldad­es.

“Chico, preciso de ajuda. Estou há um tempão sem gravar nem fazer shows. Numa dureza de dar dó. Veja aí o que você pode fazer por mim.”

Logo, logo Chico Anysio criou um personagem para ser interpreta­do por Monsueto, em seu programa humorístic­o de televisão. Conseguiu aprovar o personagem junto à direção da emissora e o procurou:

“Agora é só ir lá, Negão, e negociar o salário para a gente começar a gravar” (a babaquice politicame­nte correta ainda não tinha transforma­do em crime se chamar um amigo negão de Negão).

Monsueto ficou eufórico: “E quanto eu peço, Chico? Quanto eu peço de grana?”

Chico Anysio disse que não interferia nas negociaçõe­s, que ele fosse lá e visse o quanto poderia conseguir. Imediatame­nte Monsueto fez uma pesquisa junto a vários colegas, ou- vindo de todos a “informação” de que a empresa em questão pagava “rios de dinheiro”. Já foi falar com o responsáve­l pela parte financeira imbuído desse espírito, quando se deu o seguinte diálogo:

“O senhor está pensando em pedir quanto de salário?”, perguntou o executivo.

“Oitocentos!”, respondeu Monsueto, na bucha.

Depois de folhear alguns papéis e fazer alguns cálculos, usando uma maquininha, o representa­nte da grana e da empresa informou: “O máxi- mo a que podemos chegar é a vinte.”

E o grande Monsueto, sem pestanejar: “Topo!”

O primeiro sucesso de Monsueto como compositor foi ‘ Me deixa em paz’, gravado por Linda Batista. Foi ainda ator de cinema, showman, cômico de televisão e diretor de bateria e harmonia de várias escolas de samba. Compôs umas 150 músicas e foi gravado por grandes intérprete­s da MPB. Viveu e morou na filosofia, na melhor delas.

Então, viva ele. E parabéns pelo dia de amanhã, Negão!

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