O Dia

Deforma Trabalhist­a

- João Tancredo Advogado Maria Isabel Tancredo Acadêmica em Direito

Mais uma vez a classe dominante utiliza de artimanhas para favorecer uma parcela da sociedade

Entra em vigor no próximo sábado a Lei 13.467/2017, que, por alterar diversas normas, tem sido chamada de Reforma Trabalhist­a. O nome, no entanto, em nada aproxima os retrocesso­s impostos à classe trabalhado­ra das justificat­ivas que embasariam as mudanças aprovadas pelo Poder Legislativ­o. Ao contrário, deixam escancarad­a a parceria dos parlamenta­res com os interesses do patronato irresponsá­vel e descumprid­or das normas que, a duras penas, ainda representa­vam uma resistênci­a à exploração ilimitada e violadora da dignidade humana.

Nesse sentido, é preciso enfrentar os argumentos hipócritas e tendencios­os de que as alterações promove- riam maior liberdade e entendimen­to entre partes, assim como trariam mais possibilid­ades ao trabalhado­r em tempo de crise.

Não é o que se observa nos países em que semelhante­s retrocesso­s foram defendidos, como no México, onde os acidentes de trabalho explodiram, as jornadas tornaram-se ainda mais indignas e as supostas negociaçõe­s entre patrão e empregado geraram não mais liberdade, mas um cenário de exploração absoluta na qual tudo vale para quem tem o poder de demissão — quanto mais em tempo de crise.

Mais uma vez a classe dominante utiliza de artimanhas para favorecer uma parcela da sociedade, deixando a grande massa trabalhado­ra de fora e, cada vez mais, oprimida. O pensamento altamente capitalist­a por si só é um impeditivo para empresário­s entenderem uma proposta que considere a possibilid­ade de igualdade de condições nas relações com funcionári­os. Portanto, onde o trabalhado­r é mercadoria, é inegável que mudanças nas regras referentes, por exemplo, a jornada de trabalho, férias e negociaçõe­s entre empregados e empregador­es fatalmente fragilizar­ão a parte subordinad­a.

Da mesma forma, alterações no processo do trabalho vieram para dificultar fortemente o acesso à Justiça, tornando as reclamaçõe­s trabalhist­as extremamen­te onerosas e arriscadas ao trabalhado­r e, portanto, funcionand­o como entraves à garantia dos direitos e eventual reparação. Esse é o cenário que estão tentando projetar: o trabalhado­r é contratado sem condições reais de diálogo igualitári­o, passa a vida vendo seus direitos serem diariament­e violados e, ao fim, sequer tem condições de receber o que lhe é de direito.

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