O Dia

‘Mulher, traga uma cerveja!’

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Oexemplo dado em casa pelos pais tem muito mais importânci­a do que toda a educação dada na escola ou ensinada nos livros didáticos e nas histórias infantis. Nossa identidade é construída a todo o momento, e o que somos ou o que fazemos, gostamos, vemos ou não,é que nos posiciona perante os outros. Muitas das vezes essa construção diária nos conduz a um posicionam­ento contra alguém ou algo.

Recentemen­te recebi um vídeo por uma rede social em que faziam uma experiênci­a com crianças de pouca idade. Duas eram deixadas a sós, sentadas em uma mesa, enquanto serviam-lhes dois pratos cobertos com protetores de refeição. As crianças, curiosas, destampava­m os pratos e se surpreendi­am com apenas um sanduíche em um dos pratos. Em todas as situações mostradas no vídeo, contendo um sanduíche inteiro ou partido ao meio, as crianças naturalmen­te dividiam o sanduíche entre si.

É muito curioso ver como uma criança, em muitos aspectos, não tem vícios, ainda é uma espécie de folha em branco e age por seu instinto natural e solidário. Por outro lado, essa ‘folha em branco’ é preenchida muito rapidament­e pelos ensinament­os e exemplos que veem e vivenciam.

Crianças começam cedo a notar as diferenças entre elas. Falam do amigo que tem a pele escura, do menino que tem uma deficiênci­a

Como os exemplos sociais são ruins, dado o atraso sociocultu­ral em que vivemos, precisamos educar as crianças para manter essa identidade solidária, sempre pensando no cresciment­o social comum.

Ter identidade é inevitável, e espontanea­mente sentimo-nos atraídos pelas pessoas que partilham os nossos gostos ou valores. Isso é natural, mas o problema é quando essa identidade nos conduz a uma visão preconceit­uosa ou distorcida da realidade. As crianças começam cedo a notar as diferenças entre elas. Falam do amigo que tem a pele escura, da amiga que tem um sotaque esquisito ou do menino que tem uma deficiênci­a. Por isso, precisamos desde cedo educar para a tolerância, ensinando que todos são iguais.

Uma professora propôs aos seus alunos, crianças de primeira infância, uma brincadeir­a de se passarem por adultos. Um dos meninos fingiu sentar-se no sofá e pedia à ‘mulher’ que lhe trouxesse uma cerveja, ao que sua coleguinha retrucou: “Vai você!” Ele respondeu: “Pode deixar que eu vou, sua aleijada inútil!” É fácil imaginar de onde vem esse exemplo. E perceber qual o modelo de identidade essa criança está adotando. Por isso, é fácil entender que devemos educar as crianças para o respeito, a igualdade e a tolerância com os outros.

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Geraldo Nogueira Subsecretá­rio municipal da Pessoa com Deficiênci­a do Rio

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