O Dia

Dia de Nogueira e Viola

- Luís Pimentel Jornalista e escritor

Opróximo domingo, dia 12 de novembro, é data supimpa para a música brasileira. Dia em que nasceram João Nogueira, em 1941, e Paulinho da Viola, em 1942. João estaria fazendo 76 anos, por isso relembro aqui crônica que escrevi em 2011, por conta dos seus setentinha­s. Lá vai:

A nuvem escolhida ficava numa curva da rampa do Maracanã, à esquerda da torcida do Flamengo, onde depois dos jogos a gente parava para fazer xixi e reencontra­r os amigos desapareci­dos no empurra-empurra das arquibanca­das. Na mesa eu reconhecia, entre outros, Clara Nunes (primeiro as damas), Wilson Batista, Moreira da Silva, Zé Kéti, Roberto Ribeiro, Mauro Duarte, Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Batatinha, Paulinho Soares e Walter Alfaiate.

O garçom era um mulato sarará que dera expediente no Fla-Bar, em tempos idos. Comemorava­m-se os 70 anos de João Nogueira, que chegou de camisa regata preta, entoando os versos de um samba que dizia “pode chover, pode o sol me queimar”, e perguntand­o “cadê Wilson, Geraldo e Noel?”.

Não me digam que a rampa já não existe (o Maraca também não), pois no meu sonho a nuvem e os personagen­s eram reais, e vai ser difícil agora reunir as provas: a Warner não gravou, a Globo não vai passar, mas ouvi muito bem o breque do Morengueir­a:

— Eu já tinha declarado que você era o único capaz de me substituir, compadre. Mas resolveste­s subir exatamente um dia antes de mim...

Foi aí que revi o João, vivendo o mais absoluto poder da criação, mais nó na madeira do que nunca, alpercatas de couro, perguntand­o por onde andará Maria Rita, assoviando para Clara em tom de ‘Sabiá’, com aquela mesma camisa, 30 anos antes, nas cadeiras especiais (tinha um menino ao seu lado, que não sei se já era o seu Diogo), em cima da cabine de onde se via e ouvia Waldir Amaral narrando a virada espetacula­r com passagem pelo Méier e pelos Encontros Cariocas, antes de chegar à Barra da Tijuca. É sonho, mas vejo como se fosse num espelho, com o pedido de licença antecipada ao Paulinho Pinheiro.

O vascaíno Paulinho da Viola é tão unanimidad­e nacional quanto o meu (e do João) Flamengo. Desde o dia em que um Rio passou em nossas vidas — e lá se vão mais de quatro décadas — que nunca mais conseguimo­s viver sem ouvi-lo. Viemos com ele, de lá para cá, chorando e cantando, gemendo e dançando, no mar que nos navega ou nos sinais fechados.

Entre nós ou apenas em nossa memória, viva eles.

O vascaíno Paulinho da Viola é tão unanimidad­e nacional quanto o meu (e do João Nogueira) Flamengo

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