O Dia

Apuração de 7 mortes em São Gonçalo vira ‘jogo de empurra’

Sem resultados de perícia ou depoimento­s de todos, delegado diz que policiais não fizeram disparos. CML também nega tiros

- BRUNA FANTTI bruna.fantti@odia.com.br RAFAEL NASCIMENTO rafael.nascimento@odia.com.br

Delegado que apura homicídios em baile funk diz que tiros contra as vítimas foram disparados por soldados do Exército. Comando Militar do Leste nega que seus homens tenham atirado.

Ainvestiga­ção da morte de sete pessoas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, ocorrida durante operação da Coordenado­ria de Recursos Especiais (Core) e Forças Armadas na madrugada de sábado, virou um jogo de empurra entre as autoridade­s envolvidas.

Sem ter o resultado do exame de balística das armas ou interrogar todos os envolvidos, o delegado Marcos Amin, da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, afirmou ontem que foram os militares do Exército que trocaram tiros com supostos criminosos. “Os agentes da Core não efetuaram disparos. Eles disseram que estavam fazendo levantamen­to para operações futuras. Houve confronto com o Exército”, disse. Amin entrou na polícia em 2012 e, entre 2013 e 2015, atuou como delegado na Core.

Só três policiais que participar­am da ação prestaram depoimento. Afirmaram que não fizeram disparos, mas não acusaram militares. A conclusão foi do próprio delegado.

Procurado novamente pela reportagem, afirmou que “estava proibido de dar novas declaraçõe­s”.

Já o Comando Militar do Leste (CML) disse que os militares negaram ter realizado os tiros. “Eles somente ouviram um tiroteio. E, ao lá chegarem, encontrara­m vários mortos ao longo da estrada, em uma extensão de um quilômetro”, afirmou o coronel Roberto Itamar, porta-voz da corporação. Os 17 militares que estavam em um dos blindados prestaram depoimento­s somente no CML que, por enquanto, resolveu não instaurar inquérito.

De acordo com o Ministério Público Estadual, apesar da lei sancionada em outubro que transferiu para a Justiça Militar a responsabi­lidade de julgar eventuais crimes cometidos por militares contra civis durante Garantias de Lei e Ordem, Amin pode colher depoimento­s dos militares e até pedir exames de balística das armas. “Ele não pode é indiciar os militares ou investigar diretament­e a conduta deles”, afirmou o promotor Paulo Roberto Cunha, do Grupo de Atuação de Segurança Pública.

Ainda segundo Cunha, “cabe ao Ministério Público

Eles ouviram tiroteio. E, ao lá chegarem, encontrara­m vários mortos ao longo da estrada, em uma extensão de um quilômetro CORONEL ROBERTO ITAMAR

Militar avaliar a necessidad­e da instauraçã­o de Inquérito Policial Militar em relação aos militares”. A procurador­a Maria Lourdes Sanson, do Ministério Público Militar, afirmou que “acompanha o caso”. Como O DIA antecipou ontem, o Ministério Público espera um relatório da Polícia Civil sobre a operação. No entanto, até a noite de ontem, o documento não havia sido enviado ao MP. Na operação, um fuzil, sete pistolas e drogas foram apreendido­s.

FERIDOS

Os feridos continuam internados. Um deles foi baleado nas duas mãos, passou por uma cirurgia e deve ser operado novamente. Já outro foi atingido no queixo e seu estado de saúde é gravíssimo. Um rapaz que ficou ferido nas costas, está em situação estável.

Na manhã de ontem, cerca de cem pessoas fizeram uma manifestaç­ão contra as mortes. Com faixas e cartazes, os moradores da comunidade pediam Justiça e diziam que os mortos eram inocentes.

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ESTEFAN RADOVICZ/AGÊNCIA O DIA Parentes e amigos das vítimas dizem não entender o que aconteceu na madrugada de sábado no Salgueiro

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