CAOS NO ZIMBÁBUE
Exército toma capital e põe presidente Robert Mugabe em prisão domiciliar
OExército do Zimbábue colocou o presidente Robert Mugabe, de 93 anos, em prisão domiciliar e assumiu o controle da capital, Harare, ontem, em operação dirigida contra o entorno do mais velho governante em exercício do mundo. Apesar dos indícios, os militares asseguraram que não se trata de um golpe de Estado, mas de cerco a “criminosos” dentro do governo.
Soldados e veículos blindados bloquearam de manhã o acesso de veículos ao Parlamento, à sede do partido no poder, o Zanu-PF, e ao Supremo Tribunal. Os escritórios onde o chefe de Estado reúne os ministros também foram cercados. O presidente Mugabe declarou estar detido em sua residência, em conversa por telefone com o colega sul -africano, Jacob Zuma. Ele indicou estar bem.
No início da noite, um oficial anunciou na televisão nacional que o Exército estava intervindo contra “criminosos” ligados a Mugabe, mas negou qualquer tentativa de golpe de Estado contra o regime.
“Esta não é uma tentativa de derrubar o governo”, disse o general Sibusiso Moyo em pronunciamento à nação em rede nacional. “Queremos assegurar que Sua Excelência, o presidente (...), e seus familiares estão sãos e salvos, com sua segurança garantida”, declarou. “O alvo são criminosos de seu entorno. Após cumprirmos nossa missão, esperamos que a situação volte à normalidade”, ressaltou Moyo.
Forte tiroteio ocorreu de madrugada, na zona da residência de Mugabe em Harare. “Pouco antes das 2h, ouvimos entre 30 e 40 disparos, durante três a quatro minutos, procedentes de sua residência”, contou um morador do bairro de Borrowdale.
Aliado de Mugabe, Jacob Zuma declarou ser hostil a qualquer mudança de regime “inconstitucional” no vizinho. “Muito preocupado”, Zuma também fez um apelo “à calma e à contenção” e exortou as partes a “resolver amigavelmente o impasse político”.
Por meio de seu presidente, o guineano Apha Condé, a União Africana foi além e denunciou “o que parece um golpe de Estado”, exigindo “o restabelecimento imediato da ordem constitucional”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu calma aos dois lados. Segundo o
porta-voz das Nações Unidas, Farhan Haq, Guterres está monitorando a situação e “pede calma, não violência e contenção”. Guterres “ressaltou a importância de resolver as diferenças políticas através de meios pacíficos e do diálogo, e em linha com a Constituição do país”, acrescentou.
A operação militar ocorre em meio a crise aberta entre Mugabe e o líder do Exército após a destituição, semana passada, do vice- presidente, Emmerson Mnangagwa, braço direito do chefe de Estado. A queda veio uma semana depois de ter discutido com Grace, mulher de Mugabe e primeira na linha de sucessão. Mugabe, que dirige o Zimbábue com mão de ferro desde a independência do país, em 1980, já anunciou que concorrerá em 2018 a novo mandato.
Sob seu regime autoritário, o país empobreceu muito, e, desde o início dos anos 2000, lida com desemprego em massa (cerca de 90% da população ativa) e uma falta de liquidez que atrasa o pagamento dos salários dos funcionários.