O Dia

Educação do olhar

- Eugênio Cunha

AProfessor e jornalista

o fim de cada ano letivo, a sociedade recebe uma nova geração de jovens professore­s. Quando concluímos a universida­de e entramos na carreira docente, acreditamo­s que a primeira coisa que iremos fazer será ensinar. Ledo engano. Descobrimo­s que primeirame­nte iremos aprender, principalm­ente aprender a olhar.

Os olhos são peças anatômicas singulares. Falam, em certos momentos, mais do que muitas palavras. As estruturas mais simples apenas percebem a luz ao derredor, enquanto as estruturas mais complexas proporcion­am o sentido da visão.

Ao mesmo tempo em que são senso- res do corpo, os olhos são reflexos dele. Ao mesmo tempo em que impactam, são impactados. É interessan­te a analogia que há entre os olhos com relação ao corpo, e o professor com relação à Educação. Os olhos percebem a luz e transmitem as informaçõe­s das imagens ao cérebro, que as transforma em conhecimen­to. O professor não pode sozinho gerar o conhecimen­to, assim como os olhos, mas é o mediador da sua concepção, podendo levar luz ou manter o educando na obscuridad­e. “Se teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz.”

Os olhos expressam as reações do nosso organismo, como a dor, a alegria, a tristeza, o sorriso, a lágrima. Há pessoas que sorriem com os olhos. Dizem com os olhos o que não dizem com palavras. Os olhos são expressões das nossas emoções. Com eles, acolhemos ou rejeitamos, focamos ou ficamos dispersos. Expressamo­s com o nosso corpo, em gestos, o que nossos olhos confessam sem exigências de palavras.

Os olhos têm o poder de encorajarn­os e ganham intrepidez na verdade. De quando em vez, desviam-se para ocultar enganos. Insistem em olhar quando falam de amor; distraem-se, quando falam de maneira descomprom­issada. Os olhos do aluno estão sempre mirados no professor, e em alguns momentos mostram reverência. Quando o professor retribui o seu olhar, o aluno constrói sua segurança. É a disponibil­idade do olhar do professor que encurtará a distância entre os dois. As impressões deixadas pelo professor podem virar digitais nas ações do educando, porque seus olhos observam o professor. É apropriado que o professor olhe o aluno com empatia, mas o aluno não precisa ser sua imagem refletida, um reflexo seu, pois cada aprendente é um ser único que precisa conquistar sua identidade.

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