Força-tarefa para ajudar os animais
Biólogo faz monitoramento em rodovia para resgatar bichos silvestres e limpar a estrada
Números alarmantes de animais silvestres mortos atropelados nas estradas fluminenses estão preocupando biólogos. Pesquisadores que monitoram a RJ-122, que liga Guapimirim e Cachoeiras de Macacu, registram de 700 a mil animais atropelados por ano — já foram achadas até 15 carcaças em um dia. Em 180 quilômetros da BR-040, entre Minas Gerais e o Rio, foram registrados 705 casos só em 2017.
Há dois anos, o biólogo Marcelo Pereira da Costa faz, voluntariamente, monitoramento nos 36 quilômetros da RJ-122, com uma equipe. A maioria das vítimas são mamíferos (42%); 37%, aves; 16%, répteis e 5%, anfíbios. Segundo Costa, pesquisas com caminhoneiros da região apontam que a maioria dos atropelamentos envolvendo cobras e serpentes é proposital e os demais casos tendem a ser acidentais.
“Caminhoneiros revelam que, quando se deparam com bichos mais ‘fofinhos’, como tamanduá-mirim e bicho-preguiça, param o veículo e tentam deslocar o animal para a mata”. Costa apela que os motoristas prestem mais atenção na estrada, respeitem os limites de velocidade e evitem jogar lixo na via, já que os animais atravessam em busca de alimento. Ele critica a ausência de legislação que prevê punição por maus tratos a quem não presta socorro após atropelar um animal, como ocorre em Portugal, e cobra ações do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ), responsável pela RJ-122. “As placas estão destruídas. Além disso, é necessário construir cercas e passagens suspensas e subterrâneas para a travessia dos animais”, disse o biólogo.
De duas a três vezes por semana, dois observadores saem para monitorar a RJ122 em um carro. Trechos com maior incidência são percorridos a pé. As carcaças são removidas para evitar que outros animais se desloquem até a estrada para se alimentar, correndo risco de serem atropelados. A região entre o Km 13 e o Km 15 é considerada a mais crítica, porque os animais vão se alimentar na Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Três Picos.
Na BR-040, o trabalho de monitoramento é realizado 24 horas por dia por inspetores da concessionária É o total de atropelamentos de animais silvestres na BR-040. Na rodovia RJ-122, a quantidade varia de 700 a mil casos por ano. Concer. O projeto possui ainda uma equipe técnica especializada composta por um biólogo e um auxiliar. Segundo a Concer, os animais mais vitimados na rodovia são o gambá-de-orelha-preta e o ouriço-cacheiro e o trecho mais crítico é o da Serra de Petrópolis, porque corta o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, região de Mata Atlântica. Outro fator que estimula os atropelamentos, segundo a Concer, é o desmatamento no entorno da rodovia, que reduz o habitat dos animais.
O DER-RJ informou que a RJ-122 ganhou prêmio internacional nos EUA devido à sua qualidade e preservação do meio ambiente e que cinco passagens aéreas foram construídas. O órgão fará vistoria para avaliar as placas. A Concer esclareceu que possui passagem de fauna monitorada com câmera fotográfica. A concessionária implantou cercas em trechos mais críticos, com sinalização, e faz campanhas educativas e avaliação constante.
O Projeto de Lei 3.185/2017, da deputada estadual Márcia Jeovani (DEM), sugere medidas para circulação segura da fauna silvestre nas estradas. Mais de 15 animais dessas espécies morrem atropelados a cada segundo e 475 milhões a cada ano em todo o Brasil, estima o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas.