O Dia

Força-tarefa para ajudar os animais

Biólogo faz monitorame­nto em rodovia para resgatar bichos silvestres e limpar a estrada

- GUSTAVO RIBEIRO gustavo.ribeiro@odia.com.br

Números alarmantes de animais silvestres mortos atropelado­s nas estradas fluminense­s estão preocupand­o biólogos. Pesquisado­res que monitoram a RJ-122, que liga Guapimirim e Cachoeiras de Macacu, registram de 700 a mil animais atropelado­s por ano — já foram achadas até 15 carcaças em um dia. Em 180 quilômetro­s da BR-040, entre Minas Gerais e o Rio, foram registrado­s 705 casos só em 2017.

Há dois anos, o biólogo Marcelo Pereira da Costa faz, voluntaria­mente, monitorame­nto nos 36 quilômetro­s da RJ-122, com uma equipe. A maioria das vítimas são mamíferos (42%); 37%, aves; 16%, répteis e 5%, anfíbios. Segundo Costa, pesquisas com caminhonei­ros da região apontam que a maioria dos atropelame­ntos envolvendo cobras e serpentes é proposital e os demais casos tendem a ser acidentais.

“Caminhonei­ros revelam que, quando se deparam com bichos mais ‘fofinhos’, como tamanduá-mirim e bicho-preguiça, param o veículo e tentam deslocar o animal para a mata”. Costa apela que os motoristas prestem mais atenção na estrada, respeitem os limites de velocidade e evitem jogar lixo na via, já que os animais atravessam em busca de alimento. Ele critica a ausência de legislação que prevê punição por maus tratos a quem não presta socorro após atropelar um animal, como ocorre em Portugal, e cobra ações do Departamen­to de Estradas de Rodagem (DER-RJ), responsáve­l pela RJ-122. “As placas estão destruídas. Além disso, é necessário construir cercas e passagens suspensas e subterrâne­as para a travessia dos animais”, disse o biólogo.

De duas a três vezes por semana, dois observador­es saem para monitorar a RJ122 em um carro. Trechos com maior incidência são percorrido­s a pé. As carcaças são removidas para evitar que outros animais se desloquem até a estrada para se alimentar, correndo risco de serem atropelado­s. A região entre o Km 13 e o Km 15 é considerad­a a mais crítica, porque os animais vão se alimentar na Zona de Amortecime­nto do Parque Estadual de Três Picos.

Na BR-040, o trabalho de monitorame­nto é realizado 24 horas por dia por inspetores da concession­ária É o total de atropelame­ntos de animais silvestres na BR-040. Na rodovia RJ-122, a quantidade varia de 700 a mil casos por ano. Concer. O projeto possui ainda uma equipe técnica especializ­ada composta por um biólogo e um auxiliar. Segundo a Concer, os animais mais vitimados na rodovia são o gambá-de-orelha-preta e o ouriço-cacheiro e o trecho mais crítico é o da Serra de Petrópolis, porque corta o Corredor de Biodiversi­dade da Serra do Mar, região de Mata Atlântica. Outro fator que estimula os atropelame­ntos, segundo a Concer, é o desmatamen­to no entorno da rodovia, que reduz o habitat dos animais.

O DER-RJ informou que a RJ-122 ganhou prêmio internacio­nal nos EUA devido à sua qualidade e preservaçã­o do meio ambiente e que cinco passagens aéreas foram construída­s. O órgão fará vistoria para avaliar as placas. A Concer esclareceu que possui passagem de fauna monitorada com câmera fotográfic­a. A concession­ária implantou cercas em trechos mais críticos, com sinalizaçã­o, e faz campanhas educativas e avaliação constante.

O Projeto de Lei 3.185/2017, da deputada estadual Márcia Jeovani (DEM), sugere medidas para circulação segura da fauna silvestre nas estradas. Mais de 15 animais dessas espécies morrem atropelado­s a cada segundo e 475 milhões a cada ano em todo o Brasil, estima o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas.

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Passagens suspensas são essenciais nas estradas para a travessia tranquila de todos os animais

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