O Dia

Vizinhos de agências bancárias se mudam com medo de explosões

Com ataques cada vez mais frequentes de criminosos a caixas eletrônico­s no Rio, moradores e comerciant­es deixam casas e negócios para trás nos bairros afetados

- BRUNA FANTI bruna.fanti@odia.com.br RAFAEL NASCIMENTO rafael.nascimento@odia.com.br

Modalidade de roubo com explosivos, cada vez mais frequente no Rio, faz com que moradores e comerciant­es que são vizinhos de agências bancárias procurem se mudar, por medo.

Explosões de agências bancárias têm se tornado cada vez mais frequentes no Rio e o prejuízo provocado por esse tipo de ação criminosa vai além do dinheiro que os bandidos conseguem roubar. Quando as quadrilhas vão embora, deixam para trás moradores da vizinhança completame­nte inseguros. Com medo das explosões e roubos, muitos vizinhos e comerciant­es estão deixando casas e negócios que funcionam perto de bancos em várias partes da cidade. Foram 45 roubos a caixas eletrônico­s ocorridos de janeiro a setembro deste ano no estado.

É o caso de algumas famílias do edifício Conde das Palmeiras, na Rua 24 de Maio, no Riachuelo. No local funciona uma agência do Bradesco que já foi explodida duas vezes em três meses. Em cima do estabeleci­mento bancário, há mais de 90 apartament­os. Ao lado, a Escola Municipal Pareto.

“Da última vez foi uma coisa terrível. Aconteceu tudo debaixo da nossa janela. A minha mãe de 85 anos dormia na hora da explosão e acordou apavorada. Os bandidos fecharam a 24 de Maio, perto da São Francisco Xavier enquanto outros vieram e invadiram o banco. Após detonarem os explosivos, trocaram tiros com uma patrulha da PM que passava”, conta a pedagoga Nilva Coelho de Lima, 47 anos, e que mora há 14 anos no edifício.

Segundo Nilva, os moradores fizeram um abaixo assinado pedindo que o banco só funcione durante o dia. “A agência já tinha sido assaltada, mas nunca usaram granadas e bombas. Nesse ano, os criminosos se superaram”, diz.

A pedagoga já esperava esse tipo de ação. “Atacaram outros bancos da região e era fato que uma hora eles iriam chegar aqui. Após o ataque, a vizinha do andar de cima e uma outra do andar de baixo colocaram seus apartament­os à venda e se mudaram”, contou.

MESMA FORMA DE ATUAR

Segundo um agente da Delegacia de Roubos e Furtos, que investiga os roubos, a forma de atuar dos criminosos é a mesma. “Alguns deixam rastros de arames na rua para furar os pneus das viaturas durante a perseguiçã­o. Percebemos que os alvos são caixas eletrônico­s que possuem grandes quantias em dinheiro, o que pode indicar que eles recebam informaçõe­s internas”, afirmou o investigad­or, que pediu para não se identifica­r.

O maior número de roubos a caixas eletrônico­s ocorreu em 2005, com 72 casos no estado. A diferença para as ações de agora é o uso de explosivos do tipo C-4, muitas vezes roubados de pedreiras. Por conta disso, o Grupo de Atuação Especial em Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, investiga a modalidade desde o ano passado. As provas colhidas até o momento apontam que criminosos da facção PCC possam estar envolvidos. Alguns presos eram paulistas.

Muitos cariocas que moram perto de agências pensam em se mudar. Há poucos metros do prédio da pedagoga Nilva, na mesma calçada, criminosos destruíram uma agência do Santander três vezes em apenas dois meses. Por conta disso, ao menos três moradores e cinco lojistas abandonara­m o local temendo novos ataques.

“Eu sai daqui com a minha família por conta dessa criminalid­ade. Os bandidos estão ousados. Os colegas comerciant­es — uma loja de estofados, uma madeireira, uma drogaria e até um Subway — decidiram deixar essa área temendo que fossem vítimas desses criminosos. Trabalho aqui há 22 anos e está insustentá­vel”, relata o vendedor Humar Sabag, 47, de uma loja de carros ao lado da agência. Um homem que morava em um apartament­o ao lado da agência, há dois meses se mudou para o bairro do Rocha.

Já na Abolição, uma agência do Banco do Brasil foi destruída em agosto e até hoje não voltou a funcionar, causando transtorno­s para quem precisa dos serviços bancários. “Infelizmen­te, é mais uma das muitas. Eles arrebentar­am com tudo, aqui, durante o crime”, afirmou o gerente do banco que não quis se identifica­r.

SEM OPÇÃO DE BANCOS

“O roubo aconteceu pouco antes das 3h da manhã. Isso foi em meados de agosto. Explodiram tudo e desde então, a agência não abriu mais. infelizmen­te, é um prejuízo para todos nós. Hoje, se eu preciso pagar conta nesse banco tenho que ir ou em Madureira, ou em Cascadura, ou no Méier ou no Norte Shopping”, disse Carlos dos Santos Custódio, 51, que mora em frente a agência na Rua da Abolição.

“Depois que os criminosos entraram aqui e o banco fechou, o faturament­o das lojas caiu uns 40%. A essa hora (10h da manhã de sexta-feira), a loja estaria cheia. A gente não sabe se vai reabrir. Mas temos medo que reabra e que os bandidos a explodam novamente”, contou Sônia Lopes, 55, dona de uma padaria ao lado do BB.

 ?? MAÍRA COELHO / AGÊNCIA O DIA ?? A agência do Bradesco na Rua Vinte e Quatro de Maio foi alvo recente de bandidos
MAÍRA COELHO / AGÊNCIA O DIA A agência do Bradesco na Rua Vinte e Quatro de Maio foi alvo recente de bandidos
 ?? FOTOS SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA ?? Uma moradora disse tudo aconteceu embaixo de sua janela
FOTOS SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA Uma moradora disse tudo aconteceu embaixo de sua janela
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Moradores próximos aos bancos relatam momentos de medo

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